Bate-papos foram espaço para que o público e os realizadores pudessem trocar ideias 

Além de uma janela para a exibição de filmes, que apresentaram um recorte potente da produção cinematográfica contemporânea, o 26º Festival de Cinema de Vitória foi um espaço para se pensar o audiovisual com uma série de debates, realizados sempre no dia posterior às exibições, da 8ª Mostra Foco Capixaba, 23ª Mostra Competitiva de Curtas e 9ª Mostra Competitiva de Longas.

Os debates foram um espaço para que o público e os realizadores pudessem trocar impressões e ampliar o olhar sobre os filmes, além de reforçar a importância dos trabalhos para refletir os assuntos da contemporaneidade. “É através dos debates que os filmes realmente se desdobram e entendemos a linha narrativa contada através da curadoria das mostras ao selecionar os filmes que assistimos”, explica o jornalista Filippo Pitanga, mediador de todos os encontros.

Dia 1

O primeiro dia de debate levou para o centro da roda o longa-metragem Pacarrete, de Allan Deberton e os curtas da Mostra Foco Capixaba. “Esses filmes todos não estão aqui representando um conceito artístico, em toda sua magnitude, mas também os nossos direitos de ser, existir e nos expressar”, disse o mediador Filippo Pitanga, no início do bate-papo, que tinha como ponto comum entre os filmes a proximidade com os personagens retratados, tanto na ficção quanto no documentário. 

Os filmes exibidos na 8ª Mostra Foco Capixaba, janela exclusiva para realizadores locais, foram Minhas Mães, de Gustavo Guilherme da Conceição; Pescadores Urbanos, de Yolanda Faustini; Guri, de Adriano Monteiro; Práticas do Absurdo, de Alexander S. Buck; Casa de Vó, de André Ehrlich Lucas; Jardim Secreto, de Shay Peled.

Pacarrete aborda temas como a loucura, a permanência do sonho e o drama da velhice através da história de uma bailarina clássica. “Em 2007, eu conheci mais da história real dela, que tinha o nome que significava ‘margarida’ em francês. Aí veio a imagem de indigente, louca que eu tinha acesso para a imagem de artista incompreendida até mesmo para a incompreensão do nome dela”. O filme se passa na cidade de Russas, no Ceará, e reforça a força do audiovisual produzido no Nordeste. “É um filme com um elenco composto por nordestinos”. 

Para Shay Peled, realizadora de Jardim Secreto, exibido na 8ª Mostra Foco Capixaba, seu trabalho na equipe de Transvivo, filme de Tati Franklin, fez ela entender o caminho que ela gostaria de seguir como diretora e que ela usou no seu curta: “Esse filme me fez entender muito o que eu queria ser como documentarista: primeiro me relacionar com o personagem e depois filmar esse personagem”. 

Dia 2 

O segundo dia de debates apresentou uma discussão sobre os filmes da 23ª Mostra Competitiva de Curtas e da 9ª Mostra Competitiva Nacional de Longas. Com a presença de todos os realizadores, foram levados para o centro da discussão os curtas filmes Arquitetura dos que Habitam, de Daiana Rocha; Os Mais Amados, de Rodrigo de Oliveira; Sangro, de Tiago Minamisawa, Bruno H Castro e Guto; Dôniara, de Kaco Olímpio; e Perpétuo, de Lorran Dias; e do longa, O Seu Amor de Volta [Mesmo que Ele Não Queira], de Bertrand Lira. 

Para o mediador e jornalista, Filippo Pitanga, o debate funciona para pensar as similaridades entre as produções. “O debate integra também a visão de todos os realizadores de outros filmes numa mesma mesa, possibilitando a expansão do olhar nas conexões que diferentes obras podem oferecer umas às outras”, afirma Filippo.

Lorran Dias, realizador de Perpétuo, destacou a importância de construir novas narrativas para desestigmatizar o olhar sobre as pessoas: “Eu sinto que parte do processo colonial que está intrínseco na mídia, intrínseco na forma como as coisas têm sido colocadas, tem muito da forma como as pessoas são representadas. Esse filme veio da vontade de pensar outras narrativas para aquele território, que pudesse sair da violência e pudesse dar lugar ao afeto”.

Dia 3 

O terceiro dia de debates, sobre as produções da 23ª Mostra Competitiva de Curtas e da 9ª Mostra Competitiva Nacional de Longas, apontou a memória como elo de ligação entre os trabalhos. “A memória é usada como dispositivo de deslocamento em todos os filmes” destacou o mediador Filippo Pitanga.  “A memória pode ser utilizada usada em todos eles. Seja como um resgate e uma ressignificação na luz do presente, seja como um delírio”.

Karol Mendes, realizadora de Riscadas, falou sobre as memórias relacionadas ao Centro de Vitória, locação do filme, que guiam boa parte da narrativa do curta: “Essa relação da memória e do espaço é muito forte. Foi tudo muito construído junto. Elas falavam das experiências delas [as personagens do documentário], eu falava da minha experiência enquanto moradora de Vila Velha que passava por ali, e dessa relação com aquele espaço”. 

Os filmes exibidos na 23ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas foram Guaxuma, de Nara Normande; Riscadas, de Karol Mendes; Fartura, de Yasmin Thayná; e Tempestade, de Fellipe Fernandes. Na 9ª Mostra Competitiva Nacional de Longas foi exibido Selvagem, ficção de Diego da Costa. 

Dia 4 

Os filmes do quarto dia de debate abordavam as individualidades de grupos da sociedade. Um dos destaques foi Refúgio, de Shay Peled e Gabriela Alves, que mostrou o dia a dia de alguns refugiados na região da Grande Vitória. “A gente queria se aproximar do cotidiano deles, das vivências deles, e mostrá-las de uma forma que é muito perto da nossa. Enxergar o outro como a gente se enxerga”, disse William Loyola, produtor do curta.  

Foram exibidos na 23ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas os filmes:  Refúgio, de Shay Peled e Gabriela Alves; A Praga do Cinema Brasileiro, de William Alves e Zefel Coff, NEGRUM3, de Diego Paulino; O Órfão, de Carolina Markowicz. Na 9ª Mostra Competitiva Nacional de Longas, Mirante, de Rodrigo John, foi o documentário exibido. 

Dia 5 

Além dos realizadores e representantes dos curtas, o debate contou com a participação do elenco e equipe de produção do longa Alice Júnior, que fez sua estreia no 26º Festival de Cinema de Vitória. O mediador dos debates e jornalista, Filippo Pitanga, falou sobre a coerência das exibições de toda a semana. 

“As noites do Festival contaram uma narrativa. Nós tivemos histórias sendo contadas com a reunião de todos os filmes que estavam sendo exibidos. E ontem [sábado, 28] foi uma noite que tratou de identidade, de linguagem, do cinema de gênero, tudo com uma linguagem pop e acessível para falar desses temas”, disse Filippo. 

A última exibição da 23ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas, apresentou os filmes Quando Elas Cantam, de Maria Franchin; Sobrado, de Renato Sircilli; O Pássaro sem Plumas, de Tati Rabelo e Rodrigo Linhales; e Cor de Pele, de Lívia Perini. Na 9ª Mostra Competitiva Nacional de Longas marcou a estreia de Alice Junior, de Gil Baroni. 

O 26º Festival de Cinema de Vitória tem o patrocínio do Ministério da Cidadania, através da Lei de Incentivo à Cultura, da ArcelorMittal, do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDE, do Fundo Setorial do Audiovisual – FSA e da Ancine, conta com o copatrocínio da EDP e do Banestes, com o apoio da Rede Gazeta, da AdoroCinema, da Ceturb ES, da Prefeitura Municipal de Vitória e da Secretaria de Estado de Turismo (Setur-ES). O Festival conta também com o apoio institucional do Centro Técnico do Audiovisual – CTAv, da Mistika, da CiaRio, da Link Digital, do Centro Cultural Sesc Glória, da Jangada VOD, do Canal Brasil e da Carla Buaiz Jóias. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte.