O 28º Festival de Cinema de Vitória – Reencontro completou seu último dia de programação celebrando o potencial de unir pessoas e partilhar ideias em torno da cultura e do cinema brasileiro. Realizado de 20 a 25 de junho, o 28º FCV – Reencontro trouxe, no sábado (25), um debate com realizadores da mostra de longas premiados; sessão especial de longa; mostra de curtas premiados; e, na noite de encerramento, a sessão especial de estreia do longa Serial Kelly. Ao longo dos cinco dias intensos de programação totalmente gratuita, o evento circulou pelo Centro Cultural Sesc Glória, Hotel Senac Ilha do Boi e Cine Metrópolis – Ufes, em Vitória (ES), marcando o retorno ao formato presencial de um dos mais tradicionais festivais do cinema brasileiro, e um dos mais expressivos eventos culturais do Espírito Santo.
SESSÃO ESPECIAL DE ENCERRAMENTO
A última noite do 28º Festival de Cinema de Vitória – Reencontro teve como destaque a Sessão Especial de Encerramento no Teatro Glória. A exibição, que contou com a apresentação do ator Chico Díaz e da atriz Letícia Persiles, foi marcada pela pré-estreia nacional do longa-metragem Serial Kelly, de René Guerra, protagonizado pela cantora Gaby Amarantos. A ficção acompanha a agenda de shows de uma cantora de forró eletrônico em inferninhos pelo sertão e o rastro de mortes que ela vai deixando pelo caminho.
Além do longa exibido, a sessão também contou com a exibição do documentário Dá Pra Mim Que é Gol, produzido pelos jovens atendidos pelo CRJ Feu Rosa e participantes da Oficina de Realização em Cinema e Vídeo, realizada na programação do Festival com o cineasta Luiz Carlos Lacerda e o diretor de fotografia Alisson Prodlik. A sessão foi marcada pela emoção do público com o processo de produção e o legado deixado pelos filmes exibidos.
A equipe do longa Serial Kelly expressou sua emoção no palco do Glória, e foi aplaudida pela plateia. Estiveram presentes o diretor René Guerra, a produtora Elaine Soares e a atriz Paula Cohen. No palco, a produtora Elaine celebrou o encontro com o público proporcionado pelo festival: “esse festival é o primeiro festival que vi na vida que pula esse muro do cinema e vai atrás do público de verdade, isso é muito importante”.
O diretor René Guerra comentou sua emoção em exibir o filme, com uma rede de afetos e inspirações partilhadas durante o evento: “É um festival feito para o público, não para o próprio meio cinematográfico. Estou honradíssimo em estar aqui. O filme Serial Kelly é um filme com um elenco alagoano, que me faz ter muito orgulho, é extremamente político a gente trabalhar com os atores da minha terra, tem paisagens muito emocionais, que só quem é de lá filmaria. Mas a temática central é esse feminino na terra de violência. Vim com gratidão, essa sensação de gratidão, a todos os encontros que me fizeram amadurecer como cineasta. É muito amor transbordando, porque a gente passou muito tempo confinado, e essa palavra reencontro é muito mais profunda do que a gente imagina. Reencontro com a vida, com a arte, com o olhar o outro no olho, trocar experiências, saber os novos processos de criação, o que as pessoas estão pensando outros, a gente como antena parabólica de contar histórias”.
MOSTRA DE CURTAS PREMIADOS
A tarde do sábado finalizou a Mostra de Curtas Premiados, que desta vez trouxe os filmes Jamary, de Begê Muniz, Magnético, de Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt, Os Últimos Românticos do Mundo, de Henrique Arruda, Usina – Desejo contra a Indústria do Medo, de Amanda Seraphico, Clarissa Ribeiro e Lorran Dias. A sessão foi seguida do debate com os realizadores mediado pelo crítico e jornalista Filippo Pitanga. Além do público em geral, a sessão contou com o envolvimento de diversos jovens estudantes, por meio de uma parceria do FCV com o Cebrac.
O realizador Begê Muniz comentou sobre as trocas e difusões culturais proporcionadas com a Mostra: “Trazer a nossa cultura amazônica pro sudeste é sempre motivador. Tinha bastante gente na sessão, tivemos a excursão de jovens e teve tudo a ver, porque meu filme é voltado pros jovens. O filme é sobre a cultura amazonense, a gente usa esse cinema fantástico para contar um pouco da história e falar de preservação da amazônia. É muito legal mostrar aqui no festival esse tipo de temática, e ver que o público está conhecendo nossa cultura”.
SESSÃO ESPECIAL
A tarde do 28º FCV – Reencontro, no Teatro Glória, também contou com a última exibição das Sessões Especiais e contou com a apresentação do jornalista Paulo Gois. O público conferiu a exibição do documentário Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem, de Natara Ney. O longa acompanha a busca por um casal que na década de 1950 trocou cartas por dois anos. Em 2011, um lote com 110 cartas desta dupla foi encontrado em uma Feira de Antiguidades. Natara, que foi diretora, roteirista e montadora do projeto, compartilhou a emoção de exibir o primeiro filme dirigido por ela, e a conquista de alcançar a projeção do filme após um extenso processo de produção.
“A experiência de estar aqui, principalmente com jovens que estão começando sua jornada no cinema, é muito emocionante. Quando um festival acontece, acontece também geração de emprego para muita gente. Então fazer parte de um festival é saber que a gente tá gerando trabalho e participando de uma cadeia gigante, que é a indústria cultural brasileira. O filme foi um processo longo, do momento que peguei as cartas até a primeira projeção, foram 10 anos de trabalho. Então quando consigo projetar esse filme, levar ele pra alguém, é um fechamento de ciclo, e minha primeira assinatura como diretora. Já fiz muitos filmes, mas esse é o primeiro que tô dirigindo, então tem um peso, uma emoção, uma energia diferente. E é um filme que fala de amor, e falar de amor nesses tempos tão tristes, momentos tão duros, de um retrocesso a respeito de sentimentos. Falar de amor nesse momento é extremamente necessário”.
DEBATE COM REALIZADORES DA MOSTRA DE LONGAS PREMIADOS
O último dia de festival iniciou com um date com os realizadores da Mostra de Longas Premiados, que foram exibidos ao longo da semana e, no debate, reuniu as reflexões dos cineastas em torno da exibição de seus filmes e dos encontros com o público. O momento, no Hotel Senac Ilha do Boi, foi mediado pelo crítico cinematográfico Filippo Pitanga, contando com representantes dos filmes Mirador, de Bruno Costa, Mulher Oceano, de Djin Sganzerla, Máquina do Desejo, de Joaquim Castro e Lucas Weglinski, Última Cidade, de Victor Furtado, e Noites de Alface, de Zeca Ferreira.
A realizadora Djin Sganzerla partilhou sua emoção em ver sua obra retornar à experiência da grande tela, para a qual ela foi idealizada, e pelos momentos especiais de trocas entre realizadores e público possibilitados no Festival. “Pra mim foi uma enorme honra participar com Mulher Oceano, tive a alegria gigantesca de trazer ele pra tela grande, é inenarrável ver a sala lotada. E essa obra foi pensada desde o início para ser exibida no cinema, teve uma longa trajetória nos festivais online, mas foi pensada para ser vista no cinema, para que o público tivesse uma experiência sensorial, visual. Ver no cinema é uma outra experiência. Estar aqui em Vitória com esses realizadores, ter esse encontro com o público, é um presente e uma emoção gigantesca”.
O 28º Festival de Cinema de Vitória – Reencontro conta com o patrocínio do Ministério do Turismo e da ArcelorMittal Tubarão, através da Lei de Incentivo à Cultura. Conta com o apoio da Rede Gazeta e da Stella Artois, conta também com apoio institucional do Canal Like e da Universidade Federal do Espírito Santo e da TV Educativa do Espírito Santo. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA).
Este projeto está sendo realizado com recursos públicos do Governo do Espírito Santo viabilizados pela Lei de Incentivo à Cultura Capixaba, da Secretaria de Cultura.
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