Seria uma turnê convencional de shows de forró eletrônico se, nas horas vagas, a cantora não fosse uma assassina. Essa é uma das reviravoltas que acontecem em Serial Kelly, novo filme de René Guerra, estrelado pela cantora e compositora Gaby Amarantos, que tem estreia nacional no dia 25 de junho, às 19 horas, no Centro Cultural Sesc Glória, na noite de encerramento do 28º Festival de Cinema de Vitória – Reencontro.
O longa acompanha a trajetória de Kelly, uma artista em busca de reconhecimento profissional no mercado da música, mas que sofre pela ausência de oportunidades em sua carreira. Quando ela passa a ser investigada pelo assassinato de três homens, sua turnê vira uma estratégia de fuga. Desta forma, a cantora em ascensão se transforma na primeira serial killer mulher do Brasil. “Ela ama comer, transar e matar. Mas nem tudo está na superfície. Existem marcas nessa personagem trágica e na relação entre as mulheridades do filme que deixam o longa no limiar entre a tragédia e a comédia”, explica o diretor.
Segundo Guerra, a combinação de ideias que deu origem à protagonista do filme e, consequentemente, as outras personagens e se estendeu para todo o roteiro surgiu ao longo dos anos e foi sendo construída em etapas. “Todo processo de criação possui camadas, cores e riscos. Uma premissa surgiu como storyline: ‘Em terra de matador, mulher que mata é serial killer’. Logo em seguida, surpreendentemente, surgiu o título. Juntei-me aos meus parceiros Marcelo Caetano (co-roteirista do longa) e Maíra Mesquita para iniciarmos uma pesquisa, em 2010”, relembra o diretor. “Mas o filme é uma metáfora de memórias pessoais, um olhar debochado e amoral como forma de ver um Brasil tão surreal quanto dolorido”.
O filme marca a estreia de René na direção de longas-metragens e de Gaby Amarantos como protagonista. Para o cineasta, a cantora belenense é uma das profissionais mais arrojadas do Brasil. “Gaby Amarantos é uma das artistas mais corajosas que conheço. Tudo no filme é político. Não rimos da Kelly, rimos do absurdo que está no entorno dela. E da impossibilidade de evitar a pulsão trágica que permeia a personagem”.
A presença feminina é marcante em todas as etapas de Serial Kelly. “A colaboração de toda uma equipe montada pela Bananeira Filmes, mulheres fortes em toda as áreas artísticas sendo produzido corajosamente por Vânia Catani, a participação de todo o elenco alagoano e nordestino, revelando atuações que considero luminosas por mostrar esse Brasil profundo e moderno ao mesmo tempo. A atuação luminosa de Gaby Amarantos, Paula Cohen e de todo o elenco me faz ter fé nesse país”, pontua o diretor, antes de finalizar. “Fazer cinema hoje no Brasil é um milagre. Espero com este filme homenagear aquelas pessoas que vieram antes, subverteram e ainda lutam por um cinema de alcance, livre de censura e críticas moralmente políticas”.
FCV
O trabalho de René Guerra atravessa a história do Festival de Cinema de Vitória. Desde sua estreia, com o premiado Os Sapatos de Aristeu (2008), sua produção audiovisual integra as janelas de exibição do evento. Uma das memórias marcantes do diretor com o festival está relacionada ao seu curta-metragem Vaca Profana, produção de 2017, um dos destaques da 22ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas e vencedor do Troféu Vitória de Melhor Roteiro. “O Festival de Cinema de Vitória sempre exibiu meus curtas, mas quando a atriz Roberta Gretchen [atriz trans que faleceu em 2020], a protagonista do Vaca Profana, foi recebida como a artista que ela sempre foi. Esse gesto a ela, eu jamais esquecerei”.
O 28º Festival de Cinema de Vitória – Reencontro conta com o patrocínio do Ministério do Turismo e da ArcelorMittal, através da Lei de Incentivo à Cultura. Conta com apoio do Canal Like e da Universidade Federal do Espírito Santo e apoio institucional da Rede Gazeta. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA).
Este projeto está sendo realizado com recursos públicos do Governo do Espírito Santo viabilizados pela Lei de Incentivo à Cultura Capixaba, da Secretaria de Cultura.
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