O Festival de Cinema de Vitória sempre esteve em sintonia, por meio do audiovisual, com as pautas que contribuem para a reflexão sobre as mudanças que acontecem na sociedade contemporânea. 

Em sua 27ª edição, o evento recebe a programação da Mostra AudioTransVisual, que acontece entre os dias 26 a 28 de novembro, sempre às 19 horas, e exibirá 17 curtas-metragens que serão divididos nos três dias de exibição nos Canal de YouTube do FCV. 

A seleção, que teve sua primeira exibição nas redes sociais do Mídia Ninja no mês de setembro, apresenta diversos gêneros cinematográficos, que reafirmam a criatividade e a importância da representatividade trans no audiovisual, ainda pouco visível ou completamente apagada das grandes produções, tanto na frente quanto atrás das câmeras. 

Para André da Costa, idealizador do projeto, poder formar profissionais trans para atuar em diversas áreas do audiovisual é um caminho importante para a inclusão. “O audiovisual de certa forma, dentro do país que a gente vive, é um segmento, uma arte muito cara de produzir e consumir e, principalmente, na hora de você poder estudar esse tipo de curso. Quando você tem a oportunidade de ter pessoas transgêneros contando suas próprias histórias, a partir da sua perspectiva, a gente tá falando muito não só de representatividade, mas de inclusão e de diversidade dentro do nosso audiovisual”.

Curso 

A Mostra é resultado de um curso online e gratuito – proposto durante a pandemia de COVID-19 -, que possibilitou a formação de 30 alunes trans de 13 estados brasileiros. “Em onze anos trabalhando com formação, eu me dei conta de como esse processo meu também era excludente, de não ter esse público dentro desse processo de formação e segmento” explica André, que complementa: “A gente precisa falar de inclusão, e eu vou falar principalmente, nesse processo, de acesso à formação”.

A proposta do curso era estimular o protagonismo da população trans no desempenho de funções artísticas, por meio de capacitação, além de revelar novos talentos trans no audiovisual. E o objetivo foi alcançado. “O resultado do curso é o mais satisfatório possível. Porque em um processo de dois, três meses de aula e trabalho remoto, você conseguir rodar 17 produções espalhadas pelo Brasil, a gente só posso dizer que foi sucesso”.

Segundo André, a oportunidade de ter uma janela como a do FCV é extrema importância para que esses profissionais existam no mercado. “Eu acho que é fundamental essa janela do Festival de Cinema de Vitória. Que outros festivais se mirem nessa possibilidade de abrir janela para essas produções, para esse tipo de mostra. Porque um dos maiores gargalos da produção audiovisual no Brasil é a distribuição e a exibição, é ter janela onde se possa exibir. Quando o Festival de Vitória, que é um dos maiores e mais antigos do país, consegue dar essa oportunidade, principalmente, dentro de uma mostra competitiva para que esses trabalhos possam ter o devido reconhecimento principalmente junto a crítica especializada, porque é isso que o festival faz também, que esses filmes não chegam só para população , mas também para a crítica especializada, que possam ver essas pessoas e reconhecer o trabalho delas também, isso é fantástico”. 

A Mostra AudioTransVisual é um projeto idealizado e coordenado por André da Costa Pinto, responsável também pela formação dos participantes. O trabalho conta com a produção executiva de Carol Torquato e com a participação dos colaboradores de conteúdo: Antônio Amâncio (Agenciamento e Mercado); Nathan Cirino (Roteiro de Ficção); João Carlos Beltrão (Fotografia); Natara Ney (Montagem); Ely Marques (Finalização de Imagens); Guga S. Rocha (Som);  Iomana Rocha (Direção de Arte); Franz Lima (Visagismo e Designer Gráfico); Gastão Villeroy (Trilha Sonora). 

Online

O Festival de Cinema de Vitória é o maior e mais importante evento de cinema do Espírito Santo. Sua 27ª edição se materializa de forma diferente em 2020. Entre os dias 24 e 29 de novembro, o evento será realizado em formato online, com as mostras exibidas na plataforma InnSaei.TV, no Canal de YouTube e nas redes sociais do evento. Os filmes estarão disponíveis para o público por 24 horas, de acordo com a programação, que será divulgada em breve.

O 27º Festival de Cinema de Vitória conta com o Patrocínio do Ministério do Turismo, através da Lei de Incentivo à Cultura, e do Banestes. Conta com o apoio da Unimed Vitória, da Rede Gazeta, do Canal Brasil, da Stella Artois e da Suzano. Conta também com o apoio institucional do Centro Técnico do Audiovisual (CTAv), da Tower Web, da Dot, da Link Digital, da Mistika, da ABD Capixaba, da Carla Buaiz Jóias, do Findes, do Sesi Cultural e da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA).

27º Festival de Cinema de Vitória 
1ª MOSTRA AUDIOTRANSVISUAL 

BHOREAL, de Bernardo de Assis

Em meio a uma pandemia onde muitos se encontram vulneráveis, a Drag Queen Gérvasia Bhoreal – vivida pelo professor Lorenzzo Di Padilla – percorre as ruas de São Paulo entregando marmitas, cobertores e abraços.Classificação indicativa: 16 anos

OFICINA DO DIABO, de Caim Pacheco

A mente enquanto espaço e o monstrinho ansioso que se desenvolve nela; transforma os pensamentos em nós e se enrola neles a ponto de ficar preso. O momento que antecede um surto.Classificação indicativa: 16 anos

A HORA DO BANHO, de Cenobitch Monroe

Obra audiovisual sobre terapia hormonal, seus efeitos, disforia, depressão e de uma corpa transvestigenere não binária, a partir de uma videoarte performática experimental.Classificação indicativa: 16 anos

CAFÉ COM REBU, de Danny Barbosa

Vanessa é uma travesti de 37 anos, negra, que trabalha como manicure atendendo em domicílio e que, há algum tempo, conseguiu deixar a vida de prostituição nas ruas da cidade onde vive. Isolamento social estabelecido na cidade. Vanessa, dentro de sua residência, aguarda a aprovação do auxílio emergencial do governo. Sua situação está em análise. A pouca comida não durará muito. As clientes desmarcaram o atendimento para aquele período. Estava, então, sem exercer as duas funções que aprendera: a de manicure/designer de sobrancelha e a de garota de programa. Até que um encontro no meio da tarde de uma quarta-feira a surpreende e a faz questionar a natureza da visita.Classificação indicativa: 16 anos

A COISA TÁ RUSSA, de Debbs Gomes

Em A Coisa Tá Russa, conto a história da Chris, a minha história, a história de várias e várias pessoas que sofrem de transtorno bipolar e que não têm quase ou nenhuma representatividade em nenhum meio, mostrando que a narrativa cinematográfica pode ser realizada para dar atenção a causas importantes de saúde mental, usando o poder do corte para mostrar os efeitos dessa doença que me consome todo dia.Classificação indicativa: 16 anos

A CORPA FALA, de Gabs Torres

Com a necessidade de se enxergar em uma sociedade que limita as infinitas possibilidades de vida, Gabs Torres reescreve sua história a partir da captação de uma performance em uma cachoeira, incorporando e transmutando sua essência mais pura e sagrada através de movimentações, expressões e não expressões. Classificação indicativa: 16 anos

ADÃO, de Henrique Bulhões

O que teria a dizer da cultura que criamos o primeiro homem do mundo? O que é ser masculino e qual o papel dessa essência transformada em corpo e prisão? Na solidão do mundo e solitude de seu ser, Adão lida com um inferno mais real que maçãs, cobras e uma alguém chamada Eva.Classificação indicativa: 16 anos

NELLIEL: MÃE, GAMER E MULHER, de Jane Beatriz

As mulheres estão, cada vez mais, dominando o mundo dos jogos, no entanto, ainda são invisíveis, mas quem são elas? Nesse documentário, vou mostrar a Nelliel, primeira HeadCoach brasileira de League Of Legends. Classificação indicativa: 16 anos

TIA IRACY FUTEBOL CLUBE, de Layla Sah

Maria Iracy, mais conhecida popular e carinhosamente como TIA IRACY, principalmente pelos jogadores do seu time de futebol, é uma mulher forte e ao mesmo tempo delicada, que fez da sua vida uma partida de futebol e que, apesar de ter tido tudo pra perder os campeonatos da vida, obteve muito mais vitórias que derrotas. Um filme que fala sobre jovialidade na melhor idade, sobre afeto e, sobretudo, o seu amor por um fenômeno tão imposto ao ser masculino (o futebol), na visão de uma mulher que, de tão materna, se torna diariamente a maior referência de delicadeza e feminilidade na vida de sua filha transexual.Classificação indicativa: 16 anos

À PROCURA DE PANDORA, de Louise Xavier

Safira é uma mulher discreta, inteligente, sonhadora, que vive na zona Sul do Rio de Janeiro. De dia, ela é uma mulher que faz seus afazeres domésticos, que pedala pela orla nas horas vagas (onde acaba conhecendo Guga, um rapaz que fará de tudo para conquistar sua atenção) e, à noite, Safira vira Ruby, uma cam girl para lá de quente. Uma ligação vem para mudar sua vida, sua tia-avó acaba de morrer e deixa de herança uma gata e um bilhete. Safira decide doar a bichana, porém, com o passar dos dias, elas se apegam e ela acaba desistindo da doação, mas um descuido ao deixar a porta encostada dá mais uma reviravolta na vida da cam girl: Pandora desaparece. Ela, então, decide ler o bilhete deixado pela sua tia-avó e se dá conta de que não foi só sua companheira que desapareceu. Classificação indicativa: 16 anos

LUGAR DE ORIGENS, de Luca Andrade

Alocados como acolhides e circundados na insegurança de um prédio situado no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, um grupo de pessoas transvestigeneres retrata suas realidades dentre as diferenças sociais cotidianas, enaltecendo suas potências de maneira a reconhecer e reafirmar seus lugares. Acessar esse universo vai além do que o lugar tem a ofertar, fala sobre existir! Classificação indicativa: 16 anos

A NETA DE CIBELE, de Nicole Terra Carvalho

Cibele de Souza Pimentel e Nicole Alice Carvalho de Souza. Avó e neta. Nicole decidiu sair de casa para descobrir mais de si. Cibele a esperava voltar de braços abertos. Hoje, em meio à pandemia de Covid-19, ambas contam como o respeito, a cumplicidade, o carinho e o amor não só salvaram a relação das duas, mas também a vida de uma mulher idosa e de uma mulher trans.Classificação indicativa: 16 anos

GRAÇA EM TEMPO DE PANDEMIA, de Rhany Merces

Graça enfrenta o isolamento social causado pelo COVID-19 em 2020. Vinda do interior, mãe de travesti, idosa e moradora de favela, o documentário traz a história de força e superação desta mulher espetacular através de lembranças durante a pandemia. Classificação indicativa: 16 anos

COMO NENHUMA INTELIGÊNCIA JÁ AMOU, de Sophi Saphirah

Num mundo onde são naturais a automação das coisas e as desigualdades sociais, seria possível seres humanos desfrutarem de relações afetivas com as máquinas? Uma grande revelação surpreende os milhares de consumidores de uma grande empresa de tecnologia. Até que ponto essa sociedade poderia se sustentar? Classificação indicativa: 16 anos

FEMININAÇÃO, de Victoria Helena

Inspirado em poemas da autora Patrícia Pacheco, um grupo de mulheres formadoras de opinião coloca em pauta assuntos tais quais as violências sofridas por mulheres em seu cotidiano. A arte vídeo documental traz relatos da ativista Solange Revoredo, contando um pouco de sua vivência com o abusador, desde agressões físicas e psicológicas à volta por cima e como fundou o GRAM (Grupo de Apoio à Mulher). Colocando em pauta relacionamentos abusivos e os traumas causados por esse tipo de relação. Classificação indicativa: 16 anos

AMEI-A, de Vinicius Cassano

Inspirado no conto “Pera, uva ou maçã?”, de Caio Fernando Abreu, o curta tem como objetivo mostrar a solidão vivida na quarentena, na perspectiva de objetos inanimados questionando o “novo normal”, mostrando um pouco da rotina e das relações sociais. Classificação indicativa: 16 anos

IAUARAETE, de Xan Marçall

Uma casa na periferia de Salvador. É manhã. Uma laje residencial onde se desenrola a situação. ELA, uma mulher Trans de aproximadamente 35 anos, prepara o espaço para uma cerimônia religiosa, Noite de Iauara Etê, entidade encantada das matas virgens, que ELA recebe nas noites de lua cheia. Iauara Etê é gente e bicho, é onça e mulher. Espírito ancestral encarnado, que baixa para comunicar as verdades do mundo. Classificação indicativa: 16 anos

1º Mostra Audiotransvisual 
Quando: 26 a 28 de novembro
Local: YouTube Festival de Cinema de Vitória
Online e Gratuito

27º Festival de Cinema de Vitória
Quando: 24 a 29 de novembro
Local: InnSaei.TV, YouTube e Redes Sociais do FCV
Online e Gratuito