A representatividade feminina é o centro da Mostra Mulheres no Cinema, janela exibida dentro da programação do Festival de Cinema de Vitória há cinco anos. Antes de apresentar a nova edição – em novembro de 2021 na programação do 28FCV – acontece entre os dias 14 e 15 de julho, quarta e quinta-feira, a partir das 19 horas, no canal de YouTube do Festival de Cinema de Vitória, a Itinerância Feminina – Mostra Mulheres no Cinema, sessão especial que apresenta um recorte sobre a produção feminina no audiovisual brasileiro.
O público vai poder conferir oito filmes (os curtas-metragens ficarão disponíveis por dois meses após a primeira exibição) que apresentam diversos aspectos das vivências e lutas femininas no mundo contemporâneo. Para Saskia Sá, curadora desta edição retrospectiva, “Pensar e escrever sobre o cinema realizado por mulheres é criar um território para que mundos ainda não visíveis sejam narrados. Toda a minha vivência cineclubista me mostrou que o filme se faz no encontro onde afeta as vidas”.
Para a diretora do Festival de Cinema de Vitória, Lucia Caus, a mostra é uma oportunidade de refletir sobre a construção feminina na atualidade. “A Mostra Mulheres no Cinema é mais uma janela dentro do Festival de Cinema de Vitória para visibilizar a produção audiovisual feminina. Esse recorte proposto pela Itinerância Feminina é uma seleção potente de assuntos que atravessam a vida de inúmeras mulheres, além de uma nova oportunidade de conferir o talento de uma geração de realizadoras”.
Sessão
Além de apresentar uma seleção com produções com foco no cinema feminista, os curtas-metragens direcionam a neccessidade de cada vez mais descontruir padrões que cercam e se impõem sobre vida das mulheres. Dentro de Casa, de Yasmin Nolasco, traz uma protagonista negra que sofre gaslighting do companheiro. Revejo de Láisa Freitas, é uma investigação da própria diretora sobre a sua negritude, dando origem a uma websérie com entrevistas de outras mulheres negras sobre o tema. Mc Jess, de Carla Villa-Lobos, é sobre uma poeta negra que encontra na arte uma forma de se expressar e superar suas inseguranças. Já Em Busca de Lélia, de Beatriz Vieirah, trata da busca pela ancestralidade inspirada na história da filósofa e antropóloga Lélia Gonzalez.
O curta-metragem Fofa, de Flora Pappalardo, fala sobre a ressignificação de corpos gordos. Deus te dê Boa Sorte, de Jaqueline Farias, traz um recorte sobre a vida das mulheres parteiras da comunidade indígena Pankaru. Afeto, de Gabriela Gaia Meirelles e Tainá Medina, utiliza a linguagem experimental para olhar a cidade e sua arquitetura no embate com os corpos femininos. Esmalte Vermelho Sangue, documentário de Gabriela Altaf, se apropria do discurso publicitário para traçar um paralelo entre a violenta modelagem dos corpos para sua adequação aos padrões de beleza e as violências cotidianas dos relacionamentos abusivos.
Abertura
Na abertura do evento, também às 19 horas, será exibido um vídeo com a editora Natara Ney. Ela fala sobre a participação plena e efetiva de mulheres nos postos de trabalho, além dos processos da construção audiovisual. Entre os trabalhos realizados por Natara como editora estão “Tainá 3” e “Desenrola”, de Rosane Svartman; “O Mistério do Samba”, de Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor; “Todas as Mulheres do Mundo” e “Separações”, de Domingos de Oliveira; bem como nas séries de TV “Ó Paí, Ó”, de Monique Gardenberg, e “Novas Famílias”, de João Jardim. Em 2010, escreveu e dirigiu o curta “Um Outro Ensaio”, premiado nos festivais de Gramado e Triunfo.
Mostra
A Mostra Mulheres no Cinema abre espaço exclusivo para mulheres realizadoras, e intenciona dar destaque ao trabalho de mulheres no mercado cinematográfico brasileiro, propiciando o debate sobre questões de gênero e evidenciando discursos de empoderamento e questionamentos sobre a igualdade de direitos no contexto social contemporâneo, através de suas produções.
A Comissão de Seleção da mostra é formada pela escritora, ilustradora, diretora e roteirista, Saskia Sá; pela educadora e pesquisadora Bárbara Cazé; e pela pesquisadora da representação da mulher negra no audiovisual brasileiro contemporâneo, Hegli Lotério.
Com realização da Galpão Produções Artísticas e Culturais e do Instituto Brasil de Cultura e Arte – IBCA, o projeto conta com recursos da Lei Aldir Blanc, via Edital de Seleção de Projetos e Concessão de Prêmio “Cultura Digital” – Apoio à Produção de Conteúdos Digitais no Estado do Espírito Santo, por intermédio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult ES), direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.
ITINERÂNCIA FEMININA
MOSTRA MULHERES NO CINEMA
14 DE JULHO I 19 HORAS
ONLINE E GRATUITO
EM BUSCA DE LÉLIA, de Beatriz Vieirah
[DOC, 15′, BA, 2017]
Lélia Gonzalez. Seguindo os passos desse nome, começo a busca pela minha ancestralidade e por retratá-la. Professora e antropóloga, mulher à frente do seu tempo, protagonista na militância junto ao Movimento Negro nos anos 1970/1980, período no qual percorreu diversas cidades e países -, sempre afirmando sua identidade e denunciando o mito da democracia racial. Um símbolo de resistência e da luta pelos direitos de indígenas, negros e mulheres. Os afetos de Lélia me guiam por toda caminhada. Classificação Indicativa: Livre.
MC JESS, de Carla Villa-Lobos
[FIC, 20′, RJ, 2018]
Jéssica tem que enfrentar o preconceito cotidiano. Encontra na arte uma forma de se expressar e superar suas inseguranças. Classificação indicativa: 16 anos.
ESMALTE VERMELHO SANGUE, de Gabriela Altaf
[DOC, 13′, RJ, 2020]
Sinopse: A partir de entrevistas inéditas, com mulheres vítimas de violência doméstica, e usando apenas imagens de arquivo – de filmes de ficção e de canais do YouTube -, o documentário trata da intercessão entre práticas de beleza e relacionamentos abusivos. Classificação Indicativa: 16 anos.
REVEJO, de Láisa Freitas
[DOC, 17’16”, ES, 2017]
Revejo investiga tanto o “tornar-se” negra quanto outras potencialidades da experiência da negritude. Classificação Indicativa: Livre.
DENTRO DE CASA, de Yasmin Nolasco
[FIC, 13’58”, ES, 2016]
Paula é uma mulher jovem e casada, que vive um relacionamento em que não possui voz. Aos poucos, ela percebe sinais de que sua relação não é saudável e começa a encarar o difícil processo de libertação. Classificação Indicativa: 12 anos.
FOFA, de Flora Pappalardo
[FIC, 14’30”, SP, 2018]
Maria Clara, uma jovem de 16 anos, morre sem explicação aparente durante uma aula de educação física. Durante a noite ela reaparece ressignificando o espaço do colégio Classificação Indicativa: Livre.
AFETO, de Gabriela Gaia Meirelles, Tainá Medina
[DOC, 15′, RJ, 2018]
Em meio à uma das maiores crises políticas e representativas brasileiras, Afeto investiga o apagamento simbólico da mulher no espaço público através da arquitetura, performances e imagens de arquivo. Classificação Indicativa: 16 Anos.
DEUS TE DÊ BOA SORTE, de Jaqueline Farias
[DOC, 23′, PE, 2019]
Deus te dê boa sorte é um curta-metragem documental que revela a voz ancestral das mulheres parteiras indígenas Pankararu. Habitantes das margens do Rio São Francisco, na fronteira dos municípios de Tacaratu, Jatobá e Petrolândia, essas mulheres de espiritualidade antiga, carregam a experiência de receber no mundo os pequenos índios e índias e de garantir que sangue, placenta e cordão umbilical retornem para a terra, guardando o direito de que habitem o chão onde nasceram. Mãe Dora, tia Ana, Luciene e Juliana são guias nesta viagem que descortina entre maracás e toantes uma herança silenciosa onde cada mulher é a guardiã de um grande mistério. Classificação Indicativa: Livre.