Dentro da programação do 29º Festival de Cinema de Vitória, que acontece de 19 a 24 de setembro de 2022, no Centro Cultural Sesc Glória, a 12ª Mostra Competitiva Nacional de Longas traz cinco longas-metragens, selecionados entre 116 filmes inscritos. Nesta edição, a Mostra traz desde narrativas audiovisuais realistas até fantasias e fabulações, que atravessam diversas temáticas e questões sociais que estão em destaque no país. 

A seleção foi realizada por Leila Bourdoukan, produtora cultural e jornalista, e Gilberto Alexandre Sobrinho, pesquisador em cinema e professor no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. A Comissão de Seleção priorizou, entre os critérios artísticos, a inovação estética proposta pelas obras e a forma como as produções retratam debates importantes para o país. 

“A gente sempre parte do critério artístico, sobre como o filme, independente do gênero, traz alguma inovação, algo diferenciado, alguma proposta estética não muito comum, como está conduzindo a história de uma maneira inovadora. A partir desse critério inovador do filme, também pensamos como os filmes conduzem o espectador a um olhar sobre nosso país, como ajudam a pensar o país. Pautas emergentes, questões mais candentes, questões sociais, políticas, históricas, o cinema como um agenciador da memória. A partir de uma perspectiva comparativa, conseguimos dimensionar como o filme aparece como uma novidade, para o espectador, para o grande público”, explica Gilberto Alexandre Sobrinho. 

FILMES 

Os filmes que compõem a janela do 12ª Mostra Competitiva Nacional de Longas são A Mãe, de Cristiano Burlan; A Mãe de Todas as Lutas, de Susanna Lira; Capitão Astúcia, de Filipe Gontijo; Germino Pétalas no Asfalto, de Coraci Ruiz; e Ursa, de William de Oliveira. Os longas exibidos na mostra concorrem ao Troféu Vitória em sete categorias: Melhor Filme (Júri Técnico), Melhor Filme (Júri Popular), Melhor Direção, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia, Melhor Contribuição Artística e Melhor Interpretação.  

A ficção A Mãe joga luz sobre a violência policial nas periferias. E conta a história de uma mãe, diante do desaparecimento repentino do seu filho, levando à descoberta de que ele foi assassinado pela polícia e à busca pela verdade sobre o caso. “A Mãe, apesar de ser um roteiro de ficção, parte do meu desejo em seguir denunciando a letalidade da força policial nas periferias e o círculo de violência e abandono do poder público diante dos problemas de inúmeras famílias pobres. A personagem de Marcélia [Cartaxo, atriz e protagonista do filme] é um pouco da minha mãe, que perdeu o filho nas mãos de uma milícia do Capão Redondo. É um pouco de tantas mães que seguem perdendo seus filhos pela violência do estado”. 

O documentário A Mãe de Todas as Lutas retrata a resistência de mulheres indígenas, ao traçar a história de duas líderes e suas lutas pela defesa de seus povos. A diretora, Susanna Lira, resgata a ideia que gerou o filme. “Há muitos anos venho acompanhando os conflitos pela terra no Brasil. Nos últimos tempos vinha percebendo um protagonismo feminino muito relevante no front dessa luta. E nesses últimos quatro anos aconteceu um agravamento dessa crise. Decidi documentar a história de Shirley Krenak e Maria Zelzuíta, pois além de serem mulheres incríveis e inspiradoras, estão de fato no centro dos grandes problemas ligados à terra: as terras indígenas e os assentamentos do Movimento dos Sem Terra”. 

Já o filme Capitão Astúcia traz uma narrativa marcada pela fantasia e imaginação, com a ficção que retrata um idoso que acredita ser super-herói. O realizador Filipe Gontijo revela que a ideia resgata inspirações da sua infância com histórias em quadrinhos de heróis nos gibis, bem como do personagem Dom Quixote. “Passei aqueles anos lendo revistas e imaginando se eu desenvolveria super poderes na adolescência que estava chegando, assim como acontece com os heróis dos quadrinhos dos X-Men. Sabia que não aconteceria, que não existe isso… mas mesmo sabendo que uma coisa não é real, às vezes é gostoso acreditar nela”.

Em Ursa, a ficção em torno de um ataque de pitbull se desdobra em diversos conflitos, debatendo questões como a intolerância e a cultura de violência da sociedade brasileira. O diretor, William de Oliveira explica as motivações do seu primeiro longa. “Me pareceu bastante promissora a ideia de utilizar um ataque de pitbull, um cão estigmatizado e cujos ataques, infelizmente não tão raros, são geralmente violentos, para falar, na realidade, sobre a irracionalidade das pessoas em torno deste tipo de situação; a necessidade de encontrar culpados e fazer até, nos casos mais extremos, justiçamentos com as próprias mãos. Toda a violência abaixo do verniz de civilidade da nossa sociedade e as diferentes formas em como ela se apresenta e manifesta, nas mais diferentes esferas, me interessavam tematicamente”. 

Germino Pétalas no Asfalto traz um olhar contemporâneo e sensível sobre a transgeneridade, retratando um paralelo entre a resistência e as vivências de pessoas transgêneras, e o cenário de conservadorismo que arrisca a liberdade de pessoas trans. O documentário “tensiona isso que tem se tornado cada vez mais uma revolução dos corpos, momento muito interessante para repensar gênero no país, ao mesmo tempo que há uma cruzada conservadora, que tenta coibir esse movimento”, pontua o curador Gilberto Alexandre Sobrinho. 

O 29º Festival de Cinema de Vitória conta com o patrocínio do Ministério do Turismo, através da Lei de Incentivo à Cultura e também com o patrocínio da EDP, através da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba. Conta com o apoio da Rede Gazeta e da TV Educativa ES. E conta com o apoio institucional do Canal Like, da Carla Buaiz Jóias e do Cine Metrópolis. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA).