Em 25 anos de Festival de Cinema de Vitória, os números de exibições, homenageados e filmes em competição saltam aos olhos. E o FCV também aposta no que, muitas vezes, não pode ser quantificado, mas que influencia diretamente na produção que o festival exibe todos os anos: a formação dos profissionais de audiovisual por meio das oficinas.

Neste ano, o festival ofereceu sete capacitações, contemplando todas as etapas da produção cinematográfica, desde a elaboração e gestão de um projeto até a crítica de cinema. As oficinas foram realizadas durante a semana do festival, na Universidade Vila Velha (UVV) e no Hotel Senac Ilha do Boi, com um total de 93 inscritos.

Alunos da oficina de Montagem criaram curtas-metragens a partir de imagens da internet. Foto: Tati Hauer

Imersão

Além de fornecer suporte teórico para os alunos, as oficinas funcionam como uma imersão no processo de produção cinematográfica. Ao longo dos quatro dias da oficina de Montagem, por exemplo, os participantes já produziram curtas-metragens com material extraído da internet.

“Uma das maiores dificuldades para quem monta é a quantidade de material”, afirma Eva Randolph, que ministrou a oficina deste ano. “Tem que saber trabalhar com isso. Em vez de esperar um material milagroso surgir, primeiro você tem que saber o que está procurando.”

A proposta de Eva para os oficineiros deste 25º FCV foi a elaboração de um filme a partir da ideia de autorretrato. “Eles escolheram imagens que os retratavam, ou retratavam alguma de suas vontades”, explica Eva. Segundo ela, o objetivo era estimular a liberdade de pensamento dos alunos, além de servir como aprendizado de que a montagem não é “apenas colar planos, é construir uma ideia.”

Eva conta que, na oficina deste ano, o nível de conhecimento dos alunos variou muito, desde iniciantes a profissionais com alguma experiência de montagem. “As pessoas que menos experiências tinham foram as que mais ficaram animadas com o exercício”, diz.

Aperfeiçoar

Se as oficinas são um terreno fértil para quem deseja dar os primeiros passos no audiovisual, também recebem profissionais que já têm certa inserção no mercado e desejam se aperfeiçoar.

Atriz Maria Aidê destacou método da oficina de Atuação Cinematográfica – cada exercício era avaliado pelo grupo após a gravação. Foto: Tati Hauer

É o caso da atriz Maria Aidê Malanquini, 29, que participou da oficina de Atuação Cinematográfica, ministrada pelo ator Anselmo Vasconcellos. No ano passado, ela já havia participado de um curso similar oferecido pelo 24º FCV – Preparação de Atores, comandado por Jefferson Almeida. Desta vez, o que moveu a atriz a se inscrever foi a possibilidade de experimentar métodos e técnicas diferentes.

“Em Vitória, é muito difícil essas oportunidades surgirem. Não fosse pelo festival, dificilmente o Anselmo teria vindo aqui”, afirma Maria Aidê. “É um casamento muito interessante poder participar das oficinas durante o dia e, à noite, ir ao festival e assistir aos filmes, analisar algumas coisas que você acabou de vivenciar nas oficinas.”

A estrutura das oficinas, diz Maria Aidê, foi essencial para aproveitar a metodologia dinâmica implementada por Anselmo, embora o curso fosse de curta duração. “Ele apresentava um conteúdo teórico que era chave para o trabalho dele e, no instante seguinte, já estávamos experimentando”, lembra ela. Em seguida, a atividade era filmada, editada e avaliada pelo grupo. “Isso só pôde acontecer pela estrutura que a oficina teve.”

Sucesso na 24ª edição do FCV, oficina de Animação de Otto Guerra chegou atualizada ao 25º festival. Foto: Tati Hauer

Sucesso

Parceiro do festival desde a 6ª edição e oficineiro desde o ano seguinte, o cineasta Otto Guerra – vencedor de dois prêmios neste 25º FCV – ministrou a oficina de Animação 2D no ano passado. O sucesso das atividades chegou aos ouvidos da designer e ilustradora Thays Silva, 23, que até então estudava as técnicas por meio de tutoriais e livros.

Nesta edição, ela experimentou uma versão mais atualizada do curso, com tópicos que compreenderam também o 3D. “Alguns amigos me recomendaram a oficina que fizeram no ano passado”, explica ela.

Na oficina, os alunos produziram argumento, roteiro e o animatic de uma série ou filme de animação. “Aprendi bastante coisa sobre o processo de produção e sobre como a indústria da animação funciona por aqui”, afirma Thays.

Intensidade

Protagonista do curta produzido pela oficina de Realização em Cinema e Vídeo, o ator Daniel Jaber contracenou com Anselmo Vasconcellos. Foto: Tati Hauer

Com oficineiros de renome nacional, profissionais de todos os cantos do Brasil têm se interessado pelas capacitações oferecidas pelo Festival de Cinema de Vitória. Bailarino clássico e ator, o mineiro Daniel Jaber, 32, costuma frequentar workshops e grupos de estudos para atuação em cinema. Neste ano, ele veio de Belo Horizonte (MG) para participar da oficina de Realização em Cinema e Vídeo, ministrada pelo cineasta Luiz Carlos Lacerda.

De 3 a 8 de setembro, a oficina produziu um curta-metragem, passando por todas as etapas da produção cinematográfica – roteiro, filmagem, edição, montagem, exibição. Se o tempo curto pode parecer um impedimento para alguns, foi exatamente a intensidade do curso que atraiu Daniel.

“Isso me instigou bastante. Quis fazer parte dessa quase loucura. Quando cheguei, fiquei meio assustado porque era muita coisa para fazer em pouco tempo. Mas a mentoria do Luiz Carlos e o engajamento do grupo foi primordial”, comenta o ator.

Intitulado “Cadeira Vazia”, o curta-metragem produzido na oficina foi exibido na noite de encerramento do FCV. Daniel foi o protagonista. “Enquanto artista, a gente está sempre insatisfeito. Sempre querendo ver mais, aprender e se criticar. Foi emocionante ver esse trabalho de pouco tempo atingir aquele resultado”, diz.

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Uma realização da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA), o 25º Festival de Cinema de Vitória conta com o patrocínio do Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura, da Petrobras, do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), do Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE), do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), da Ancine, e do Governo Federal, com apoio da Rede Gazeta, da Prefeitura Municipal de Vitória, e da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo. O Festival conta também com Apoio Institucional do Centro Técnico do Audiovisual (CTAv), do Canal Brasil, da Arcelor Mittal, da Link Digital, da Mistika, da Cia Rio, da UVV, da Marlim Azul Turismo e da Carla Buaiz Joias.