O direito da mulher no Brasil é assunto que envolve uma série de fatos que resultaram no que se vê escrito na Constituição Federal de 1988. Três anos antes, um grupo feminino criou o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), primeiro órgão federal da América Latina dedicado ao tema, e a elaboração da “Carta das Mulheres Brasileiras aos Constituintes”. Dia 25 de julho, na Sala Marien Calixte, terceiro andar do Sesc Glória, a 31ª edição do Festival de Cinema de Vitória a Sessão Especial sobre o documentário Lobby do Batom, de Gabriela Gastal, que aborda esse registro na história do País, quase nunca contado. 

“Nosso desejo sempre foi afetar o maior número de pessoas com uma linguagem que fosse gostosa, ágil e bem humorada para contar um fato histórico escondido. Esperamos que o público do Festival de Vitória saia inspirado pela energia dessas mulheres extraordinárias, como nós fomos, e que espalhem essa história, com vontade de ir à luta pelos seus direitos. Viva a diferença, direitos iguais!”, frisa a realizadora do filme, Gabriela Gastal.

Embora a luta tenha sido vitoriosa, o período, que era de transição entre o regime militar e a democracia, foi marcado inclusive por uma forma pejorativa e machista de políticos tratarem do CNDM, chamando-o de Lobby do Batom. Mal sabiam eles que o nome se tornaria marca da campanha suprapartidária, que tornaria efetiva toda a busca pela garantia dos direitos das mulheres na Constituição Federal.

“Lobby do Batom se remete à boca. A boca que fala, a boca que é uma boca política, a boca que articula, né? Demandas. A voz das mulheres”, disse Jacqueline Pitanguy, uma das entrevistadas no documentário, que explana atentamente o que de fato representou o movimento. Ela foi presidenta do CNDM entre 1985 e 1989, e é socióloga e cientista política.

“Numa época em que as mulheres eram, por lei, cidadãs de segunda classe, onde o marido era o chefe do casamento, num tempo que a comunicação ainda se dava por telefonemas, cartas e telegramas, nossas protagonistas viajaram por todo o Brasil, numa pesquisa riquíssima, ouvindo a sociedade civil, os sindicatos, como o das domésticas e trabalhadoras rurais, e juntas escreveram a Carta das Mulheres aos Constituintes”, disse Gabriela Gastal.

Gabriela Gastal, Renata Fraga e Christiana Albuquerque: a equipe por trás do filme Lobby do Batom. Foto: Camila Maia

O documentário foi gravado em 2021, no Rio de Janeiro. Reúne depoimentos e imagens da época. Benedita da Silva, Hildete Pereira de Melo, Jacqueline Pitanguy, Marina Colasanti, entre outras mulheres que fizeram parte desse movimento, seguem na ativa. O filme foi roteirizado por Christiana Albuquerque e teve produção de Renata Fraga, com realização do canal da GNT.

“Chegamos a conclusão de que o mais interessante era poder ouvir as protagonistas e agentes da história, as deputadas constituintes Anna Maria Rattes e Benedita da Silva, e as integrantes do movimento feminista da epoca, Jacqueline Pitanguy, Marina Colasanti, Schuma Schumaher, Leila Linhares, Comba Marques Porto e Hildete Pereira de Mello. Foi um grande acerto”, afirma Gastal. 

O movimento Lobby do Batom ampliou horizontes e, de forma coletiva, as mulheres multiplicaram de maneira orgânica para várias categorias profissionais e camadas da sociedade. A “Carta das Mulheres Brasileiras aos Constituintes”, entregue em mãos ao então deputado Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988, alcançou 85% de êxito na Constituição Federal de 1988, efetivando os pedidos feitos pelo grupo. 

“Ficaram de fora as questoes como as relacionadas ao aborto, tema que ainda precisa da nossa total atenção e moblização. A partir dessas conquistas e mudanças que podem parecer simples, como alterar a escrita do código civil inteiro, inserindo “… todos, homens e mulheres, têm direitos iguais” possibilitou novas conquistas mais a frente, como a Lei do Feminicídio, Casamento Homoafetivo, a Lei Maria da Penha, entre outras”, destaca Gabriela Gastal.

A diretora ressalta que um movimento forte de mulheres está ativo atualmente. Mulheres que lutam para manter os direitos que estão na Carta Magna, assim como a luta por novas pautas. “Hoje estamos vivendo um período de muitas ameaças à democracia e aos direitos humanos, frente ao avanço de forças conservadoras e retrógradas que cada vez mais estão ocupando espaços políticos. Não podemos apagar a nossa história, portanto o filme é um alerta não somente às futuras gerações de feministas, mas sobretudo àquelas pessoas que não conhecem a história do Brasil. Esse é um filme para o grande público, para todas, todes e todos”.

31º FCV

De 20 a 25 de julho, acontece a 31ª edição do Festival de Cinema de Vitória, que apresentará a safra atual e inédita do cinema brasileiro. Além das exibições nas mostras competitivas, o evento contará com lançamentos de filmes, debates, formações e homenagens que transformarão a cidade de Vitória na capital do cinema brasileiro. Toda programação é gratuita.

O 31º Festival de Cinema de Vitória conta com o patrocínio master do Instituto Cultural Vale e Petrobras, através da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura. Conta também com opatrocínio da ArcelorMittal através da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba, Secretaria da Cultura do Espírito Santo. Conta com a parceria do Sesc Glória. Tem apoio da Rede Gazeta, do Canal Brasil, do Canal Like e da Carla Buaiz Jóias, da TVE Espírito Santo e do Canal Like. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA).

 
SERVIÇO
SESSÃO ESPECIAL
O Lobby do Batom
de Gabriela Gastal
Quando: 25 de julho (quinta-feira)
Horário: 14 horas
Local: Sala Marien Calixte – 3º Andar do Sesc Glória
Aberto ao público 
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