De acordo com o dicionário, a palavra travessia significa, entre outras definições, o “ato ou efeito de atravessar uma região, um continente, um mar”. Nessa perspectiva, o documentário Travessia, de Karol Felício, fala sobre a tradição ligada ao nascimento em uma aldeia indigena na cidade de Aracruz. O filme será exibido na 28ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas, que será realizada de 21 a 24 de julho, às 19 horas, no Sesc Glória.  A mostra faz parte da programação do 31º Festival Cinema de Vitória, que acontece de 20 a 25 de julho, na cidade de Vitória, e conta com o patrocínio master do Instituto Cultural Vale através da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura.

“Eu atuo como fotógrafa e filmmaker de parto há oito anos, pude acompanhar o movimento crescente da humanização do parto no Espírito Santo. Trabalho na bolha dos hospitais particulares e observo como as mulheres investem em equipes que praticam parto humanizado. As bases dessa nova forma de assistência são o respeito ao parto, ao protagonismo da mulher”, explica a diretora.

O município de Aracruz, no Espírito Santo, concentra a maior população indigena do estado, com 7.425 habitantes. A diretora, que é aracruzense, sempre esteve presente nas comunidades indígenas da cidade. Nesses encontros, a diretora passou a observar que mulheres indígenas gestantes se deslocavam para realizar seus partos nos hospitais da cidade. “Eu já frequentava, há alguns anos, as comunidades indígenas de Aracruz, que é a cidade onde nasci e fui criada. Frequentava como visitante, como amiga e também como fotógrafa. Comecei a observar esse movimento das mulheres indígenas grávidas se deslocarem para parir nos hospitais da cidade, mesmo sabendo que existiam ainda algumas parteiras lá. Isso começou a me chamar atenção e despertar minha vontade de entender o porquê disso que para mim parecia uma contradição”. 

Querendo entender o motivo pelo qual a tradição relacionada aos partos não estava sendo mantida,  ela desenvolveu o roteiro de seu projeto, se reuniu com a equipe para discutir os rumos da produção e realizou visitas à Aldeia Piraquê-Açu para tratar do assunto com o respeito e a autorização permitidas. Coincidentemente, a filha do cacique estava grávida. O bebê nasceu em um hospital do município de Aracruz, localidade em que a aldeia está sediada. “Na madrugada em que a Ara Poty/ Rosanir entrou em trabalho de parto, peguei meu carro e fui até Aracruz registrar. Fiquei mais dois dias para esperar a chegada do bebê na aldeia”.

Com a experiência em registros de partos humanizados, Karol Felicio apresenta no filme um olhar sensível sobre a ancestralidade e o mundo contemporâneo. “Os saberes ancestrais como o parto de cócoras, parto na água, parto em casa, parto assistido por outras mulheres como doulas e parteiras urbanas (enfermeiras obstetras), se tornaram símbolo desse movimento”, afirma a realizadora de Travessia.

O filme foi exibido para o cacique Pedro, da Aldeia Piraquê-Açu, e agora foi selecionado para o 31º Festival Cinema de Vitória. Uma sessão privada aconteceu para a comunidade indígena envolvida na história contada por Karol Felício.

“Apesar de já fazer curtas-metragens de parto, esse foi meu primeiro trabalho oficial, autoral, de um tema que é uma missão de vida pra mim. De certa forma, essa seleção me mostra que estou no caminho certo, entregando um trabalho emocionante e foi verdadeiro para os indígenas retratados (o mais importante pra mim), quanto para um júri técnico”, afirma a diretora.

Tanto ela, quanto a equipe, estão ansiosos pela exibição no Festival. “Estamos super felizes e ansiosos. Ver nosso primeiro curta sendo exibido em um festival tão tradicional e renomado é uma alegria imensa. Não vemos a hora de ver a mensagem de Travessia sendo compartilhada com todos os espectadores e também de prestigiar os trabalhos de outros excelentes profissionais”.

31º FCV

De 20 a 25 de julho, acontece a 31ª edição do Festival de Cinema de Vitória, que apresentará a safra atual e inédita do cinema brasileiro. Além das exibições nas mostras competitivas, o evento contará com lançamentos de filmes, debates, formações e homenagens que transformarão a cidade de Vitória na capital do cinema brasileiro. Toda programação é gratuita.

31º Festival de Cinema de Vitória conta com o patrocínio master do Instituto Cultural Vale e Petrobras, através da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura. Conta também com o patrocínio da ArcelorMittal através da Lei de Incentivo à Cultura CapixabaSecretaria da Cultura do Espírito Santo. Conta com a parceria do Sesc Glória. Tem apoio da Rede Gazeta, do Canal Brasil, do Canal Like, da TVE Espírito Santo e da Carla Buaiz Jóias. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA).

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