A artista Elisa Lucinda foi ovacionada na noite de quinta-feira (21), no Teatro Glória, na Cerimônia de Homenagem do 30º Festival de Cinema de Vitória. A Homenageada Nacional desta edição do evento recebeu o Troféu Vitória, por sua contribuição à cultura, das mãos da primeira dama do estado Maria Virgínia Casagrande. O Secretário de Estado da Cultura, Fabrício Noronha, entregou para a artista o Caderno da Homenageada, publicação inédita e biográfica sobre a vida e obra da artista, além de uma jóia exclusiva desenvolvida pela Carla Buaiz Jóias. 

Na noite, comandada pela atriz Ana Flávia Cavalcanti e pelo ator Fabrício Boliveira,  Elisa começou seu discurso falando sobre a importância da cota dela para a produção audiovisual brasileira. “É muita linda essa volta toda do mundo, esse enredo do cinema da vida. Mas antes de tudo eu quero dizer que é tão vitorioso que exista esse festival. Porque nós precisamos de cotas de telas, nós precisamos mostrar o nosso cinema. Sempre vem alguém veloz e furioso e leva nosso lugar na tela. É pela nossa memória e pelo cinema brasileiro”. 

Elisa Lucinda e Maria Filina no palco do Teatro Glória. Foto: Gustavo Louzada/ Acervo Galpão IBCA

A artista convidou ao palco a poeta e intérprete capixaba, Maria Filina, que foi sua professora de poesia falada, que moldou o jeito particular como a artista interpreta suas poesias, e se tornou mestra de Elisa Lucinda desde os 11 anos de idade. “Ela é sempre a minha motivação. Me dá muita alegria de viver. Ela tem muito de mim. Eu tenho certeza que fui ótima professora de Elisa, porque só é boa a professora cujo o aluno a supera. Ela me superou e essa glória eu levo”, pontuou Filina, que declamou o poema Reminiscência, de Fernanda de Castro. 

Na sequência, Elisa contou um pouco da sua história, em um texto escrito por ela especialmente para a noite de homenagem. Entre as muitas passagens, o texto joga luz sobre os percalços, as alegrias, os desafios e o apoio familiar que foi tão importante para o sucesso da artista em terras cariocas. “O corte brusco sou eu, partindo de ônibus, e o olhar dos meus pais em mim na estrada em um destino que se inventaria”, diz ela em determinado momento da sua autobiografia falada e poetizada. 

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O texto trouxe reflexões profundas, entre outros assuntos, sobre a importância de um núcleo familiar presente. “Vi nos olhos verdes do meu pai, a proteção quilombola, a vontade de que tivesse dado certo o que ele tanto me ensinou para enfrentar uma sociedade racista, classicista […] os olhos dele diziam: ‘use a palavra e coragem filha, coragem’. Os olhos da minha mãe, que se estenderam por toda a estrada, tinham no fundo a confiança de que um dia eu fosse a estrela que ela desejava’”. 

Seu poema biográfico também falou sobre sua estreita relação com a criação textual e como ter o Espírito Santo no coração fez a diferença dessa extensa criação literária. “Nunca foi em minha vida, uma alegoria, a poesia. Pelo contrário: foi um fundamento, um alicerce, de tudo o que viria. Tradutora do meu espanto. A poesia seria meu equipamento. Estaria em minha bagagem ao lado da banana da terra, da panela de barro, da irredutível capixabice. Criou-se uma rede de proteção para que eu pudesse lutar na cidade maravilhosa”. 

Elisa durante a leitura de sua autobiografia falada e poetizada. Foto: Gustavo Louzada/ Acervo Galpão IBCA

E finalizou a leitura, falando sobre como a poesia a levaria para o mundo. “Eu seria aplaudida no mundo pelas coisas que eu trazia da minha aldeia? Era. Minha gratidão a Maria Filina, mãe da minha poesia, que me deu naquele momento um ofício de toda uma vida. Estou aqui emocionada, com um orgulho capixaba, o Espírito Santo nunca sairá de mim. Ainda tenho a imagem, o filme, dos meus pais na rodoviária, e vejo com muita clareza o tamanho da esperança, a cena, os olhos da minha mãe e do meu pai, que agora eu vejo, só agora eu vejo, eram os faróis da estrada”. 

Emocionada e muito aplaudida, Elisa encerrou seu discurso falando sobre a importância de apoiar o sonho. “Eu queria pedir aos pais dos artistas que cuidem deles. Cuidem dos nossos artistas. Invistam nos artistas. Com o mesmo esforço e dedicação que fazem com os médicos, com os outros profissionais. Eu só estou aqui por causa de uma rede de proteção que se criou em volta de mim, por causa da quilombagem que minha família fez. Eu sonhei muito em ser esse orgulho capixaba que meu pai falava e agora eu sou”. 

Reafirmando ser uma das artistas mais versáteis do Brasil, após contar sua história em versos, divertir e emocionar a plateia, ela encerrou sua participação cantando o clássico Cidade Sol, de Pedro Caetano, que entre outros versos diz “Meu coração te namora e te quer/ Tu és Vitória um sorriso de mulher”. Versos que também traduzem o sorriso esplendoroso e o talento de Elisa.

O 30⁰ Festival de Cinema de Vitória conta com o patrocínio do Instituto Cultural Vale, da Petrobras e da ArcelorMittal, através da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura. Conta com o apoio do Canal Brasil, do Canal Like, da Universidade Federal do Espírito Santo, do Cine Metrópolis, da Rede Gazeta, da Carla Buaiz Jóias e do Sesc Glória. Conta também com o patrocínio institucional do Banestes. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA).