Em 2023, o Festival de Cinema de Vitória completa 30 anos de existência. E para comemorar a data, o evento promove uma série de exibições especiais que apresentam um recorte das últimas três décadas por meio do seu principal produto: os filmes. Essa é a proposta da Mostra Comemorativa 30 Anos do Festival de Cinema de Vitória, que acontece de 14 a 18 de junho de 2023, no Sesc Glória, no Centro da capital capixaba.
Para Lucia Caus, diretora do Festival de Cinema de Vitória, a programação especial da Mostra reafirma o talento dos profissionais que produzem no Brasil. “Esse recorte que será apresentado na Mostra Comemorativa 30 Anos é uma prova da força do cinema brasileiro. Da criatividade de seus realizadores e suas equipes, que com produções originais, emocionantes e divertidas, apresentam olhares múltiplos sobre a história do povo brasileiro”.
Com a curadoria de Gilberto Alexandre Sobrinho, pesquisador na área do cinema e audiovisual e professor do Instituto de Artes da Unicamp, a programação exibirá cinco longas-metragens que apresentam um recorte simbólico da produção audiovisual brasileira, que abordam as transformações culturais e sociais vistas ao longo desses 30 anos. “Valorizei filmes que oferecem modos de pensar o Brasil em chaves diferenciadas, propondo respostas ou apontando questões para dilemas nacionais”, explicou o curador.
SESSÃO DE LONGAS
Durante os 30 anos de história, o Festival de Cinema de Vitória já exibiu mais de 180 longas-metragens, vindos de todas as regiões do Brasil. As produções fizeram parte das 12 edições da Mostra Competitiva Nacional de Longas, além de sessões especiais e pré-eventos que integraram a programação do festival.
Tendo um material tão vasto em mãos, Gilberto Alexandre Sobrinho explica que o primeiro critério para sua seleção foi a estética. “Para a seleção de longas-metragens, parti, primeiramente, de critérios estéticos, valorizando o que há de mais impactante nos filmes em termos de roteiro, fotografia, montagem, sonorização, direção de arte, etc. Tudo isso arrematado por um conceito de direção marcado por estilo próprio. Estética é um campo relacional com a cultura, a política e os modos como podemos nos relacionar com a sociedade brasileira, nesses olhares particulares e atualizados pelos filmes”, explica ele que complementa: “Também valorizei filmes que oferecem modos de pensar o Brasil em chaves diferenciadas, propondo respostas ou apontando questões para dilemas nacionais”.
Desta forma, foram selecionados cinco filmes – quatro ficções e um documentário – para a Mostra Comemorativa 30 Anos Festival de Cinema de Vitória. “Na seleção dos filmes, há diferentes gerações de diretores que buscam, em suas narrativas, olhar de maneira prismática, o Brasil das duas primeiras décadas do século XXI”, pontua Gilberto. Para ele, “esse recorte revela a heterogeneidade e a força do cinema brasileiro contemporâneo”. A seleção final traz os longas -metragens Quase Dois Irmãos (2004), de Lucia Murat (exibido no 11º Festival de Cinema de Vitória); o documentário Corumbiara (2009), de Vincent Carelli (exibido no 16º Festival de Cinema de Vitória); O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho (exibido no 19º Festival de Cinema de Vitória); A História da Eternidade (2014), de Camilo Cavalcante (exibido no 21º Festival de Cinema de Vitória); e Ela Volta na Quinta (2014), de André Novais Oliveira (exibido no 22º Festival de Cinema de Vitória).
A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante, foi exibido no 21º Festival de Cinema de Vitória. Foto: Divulgação
Para Gilberto, a seleção joga luz em produções que seguem atemporais ao dialogar com questões importantes de grupos e que dialogam com as transformações do mundo contemporâneo. “Nesse recorte, cabe retomar as intersecções entre classe, gênero e raça e a dissolução do imaginário conservador da democracia racial, entre outras questões históricas alimentadas nas narrativas, em filmes como Quase Dois Irmãos e O Som ao Redor; o genocídio indígena e as práticas de resistência em defesa dos povos originários em Corumbiara; o caro universo fabular sertanejo de A História da Eternidade, fonte inesgotável de narrativas em diferentes linguagens e aqui atualizada por uma encenação contundente e que traz as forças externas que abalam essa topografia. E, finalmente, um microcosmo de uma família filmada com um duplo de intensidade observacional e elementos de fabulação, em um microcosmo que remete para a força política das emoções privadas de Ela Volta na Quinta”.
A seleção abre um olhar certeiro e representativo sobre as inúmeras possibilidades que o cinema brasileiro apresenta ao espectador, tanto de forma estética quanto temática. “São filmes já chancelados pelo público e pela crítica, tiveram repercussão e premiação nacional e internacional, então, considerei importante também construir uma pequena e significativa amostragem do que há de melhor e mais robusto da produção cinematográfica brasileira. Certamente, com muita dor, outros filmes ficaram de fora, mas de algum modo também estão ali representados, em diálogo com a seleção final”.
UMA JANELA DE 30 ANOS PARA O CINEMA BRASILEIRO
Maior evento de cinema e audiovisual do Espírito Santo, o Festival de Cinema de Vitória completa 30 anos em 2023. Para celebrar a data, será realizada a Mostra Comemorativa 30 anos do Festival de Cinema de Vitória, que acontecerá de 14 a 18 de junho com uma programação retrospectiva especial com longas e curtas-metragens que marcaram a história do festival. Já no segundo semestre, de 19 a 24 de setembro, acontece a 30ª edição do FCV que apresentará a safra atual e inédita do cinema brasileiro e que também contará com debates, mesas redondas e muito mais.
A Mostra Comemorativa 30 Anos do Festival de Cinema de Vitória conta com o patrocínio do Instituto Cultural Vale, da Petrobras e da ArcelorMittal, através da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura. Conta também com o apoio do Canal Brasil, da Universidade Federal do Espírito Santo, do Cine Metrópolis, da Rede Gazeta, da Carla Buaiz Jóias, do Sesc Glória e da Prefeitura Municipal de Vitória. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA).
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