A Mostra Foco Capixaba chega a sua sétima edição no 25º Festival de Cinema de Vitória, no intuito de valorizar o cinema produzido no Espírito Santo. Neste ano, a mostra ocupa o Teatro Carlos Gomes na primeira noite do festival, a partir das 19h30, com cinco filmes que compõem um panorama da safra local recente. A entrada é gratuita.

Três ficções e dois documentários disputam o Troféu Vitória neste ano. A seleção teve curadoria do cineasta e professor Erly Vieira Jr., da crítica e pesquisadora de cinema Kênia Freitas, da mestranda em Cinema e Audiovisual Luana Cabral e do pesquisador e programador Waldir Segundo.

O curador Waldir Segundo ressalta a qualidade das produções locais, apesar das dificuldades de financiamento enfrentadas pelos realizadores. “Mesmo não sendo capixaba, sempre ouvi sobre a qualidade do cinema espirito-santense. Filmes surpreendentes, vibrantes e questionadores, em uma cena em plena ascensão. Ainda mais se considerados os recursos financeiros limitados, em comparação com os irmãos maiores do Sudeste”, afirma Waldir.

O curador destaca ainda a preponderância da autoria feminina entre os filmes selecionados para a mostra, tendência que se observa também em outras janelas do festival: “Quatro dos cinco selecionados são dirigidos ou co-dirigidos por mulheres, enaltecendo e fomentando a abordagem feminina no cinema, extremamente necessária para oxigenar nosso olhar e nos desvincular do recorte masculino- branco-cis-heterossexual, que predominou por mais de um século na história do cinema mundial”, argumenta o curador.

Filmes

Sobre o filme A mulher do treze, de Rejane Kasting Arruda, Waldir Segundo afirma que a autora propõe um olhar “calculado mas nem por isso frio, observando a efígie de ser humano que a velhice traz, dialogando com as inevitáveis experiências da solidão e da incomunicabilidade”.

Já em  Rio das lágrimas secas, Saskia Sá busca, de acordo com o curador, “uma visão atenta ao acompanhar a força feminina diante da perda numa das maiores tragédias brasileiras recentes: a quebra da barreira da Samarco no Rio Doce”.

Waldir acrescenta: “Ao centrar seu documentário na luta micropolítica das mulheres em defesa de seus lares, famílias e comunidades nas quais elas sempre foram parte importante de seu tecido, Saskia apresenta outras respostas, para além do discurso dos telejornais, à questão: ‘Como sobreviver após a morte de um rio?’”.

A respeito de Meninas, de Ana Cristina Murta e André Erlich, e Água Viva, de Bárbara Ribeiro, Waldir afirma que os curtas contrabalanceiam fases distintas das vivências coletivas de mulheres: enquanto o primeiro mostra “a intimidade feminina da infância de forma delicada e lúdica”, o segundo apresenta “as relações de cumplicidade entre colegas de hidroginástica, em sua maioria já na terceira idade, de modo sensorial e por vezes encantador.”

A “hidra” de Pilares, de Lucas Bonini, único representante masculino na mostra, embora retrate um serial killer cuja identidade não é desvendada pela polícia, “é um filme de época em que as estratégias de sobrevivência da personagem feminina são fundamentais para seu desfecho”, segundo o curador.

Uma realização da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA), o 25º Festival de Cinema de Vitória conta com o patrocínio do Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura, da Petrobras, do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), do Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE), do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), da Ancine, e do Governo Federal, com Apoio da Rede Gazeta, da Prefeitura Municipal de Vitória, e da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo. O Festival conta também com Apoio Institucional do Centro Técnico do Audiovisual (CTAv), do Canal Brasil, da Arcelor Mittal, da Link Digital, da Mistika, da Cia Rio, da UVV e da Marlim Azul Turismo. O lounge do Festival é co-realizado pela Galpão Produções e pela molaa.

SERVIÇO:

25º FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA

Teatro Carlos Gomes, Centro de Vitória.

De 3 a 8 de setembro

Entrada gratuita

 

7ª MOSTRA FOCO CAPIXABA

Teatro Carlos Gomes, Centro de Vitória.

Segunda-feira (3 de setembro) | 19h30

 

Confira a lista de filmes selecionados:

A mulher do treze (Rejane Kasting Arruda, FIC, 16’39’’, ES). Inês mantém sua rotina.

 

A “hidra” de Pilares (Lucas Bonini, FIC, 10’, ES). No topo do vício, não consegue adiar a ansiedade em recomeçar seu ciclo predatório. Ele enfim aguarda ansioso que novamente alguma alma aceite a sua carona.

 

Meninas (Ana Cristina Murta e André Erlich Lucas, FIC, 9’48’’, ES). Maria Carolina Finamore Santos ama Lucas de Souza Altoé.

 

Rio das lágrimas secas (Saskia Sá, DOC, 25’06’’, ES). Recorte sobre as perdas sofridas por mulheres de três pequenas comunidades, localizadas no caminho da lama de destruição do desastre/crime ambiental provocado pelo rompimento da barragem de rejeitos de mineração da Samarco, que ocorreu no dia 5 de novembro de 2015 e afetou o Rio Doce e todos os ecossistemas ao seu redor, matou 19 pessoas e desalojou inúmeras outras.

 

Água Viva (Bárbara Ribeiro, DOC, 13’05’’, ES). Mulheres de uma turma de hidroginástica comunitária conversam submersas sobre questões femininas da terceira-idade. Maternidade, trabalho e aposentadoria são alguns temas abordados.