Walda, uma senhora criada no Recôncavo Baiano, é avó materna da cineasta Camila Freitas, e conta repetidamente sobre a primeira vez em que viu um caboclo. De família praticante das religiões espíritas, entre kardecista e umbanda, tem histórias que sempre surgem entre elas. Esse é o fio condutor de Aparição, filme que será exibido na 29ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas, que acontece de 20 a 23 de julho, às 19 horas, no Teatro Glória.

A mostra faz parte da programação do 32º Festival Cinema de Vitória, que acontece de 19 a 24 de julho, que conta com patrocínio da Petrobras e com patrocínio institucional do Instituto Cultural Vale e do Banestes, através da Lei de Incentivo à Cultura

“Com o tempo, fui entendendo que essa herança transbordava os seus próprios limites para renascer sob outras formas, constituindo uma espécie de matriz narrativa para outras histórias, atravessando outros corpos, produzindo outros modos de ver e de estar entre mundos”, afirma Camila Freitas, que explica o processo do filme.

“Perdi a maioria das primeiras imagens feitas com minha avó usando minha primeira mini-DV, a partir de 2005, mas elas tiveram um papel fundamental: estabelecer a presença da câmera como parte da nossa convivência. Em 2013, iniciei um registro mais contínuo, ainda que esporádico, focado nos chamados ‘casos espirituais’ da família — relatos que habitam essa zona entre o vivido e o narrado, o visível e o invisível”.

Camila revela que tinha urgência de arquivar tudo isso. “Trazer a câmera como mediadora de um diálogo — não só com minha avó, mas também com as entidades espirituais que a acompanham. Nossa relação audiovisual foi se aprofundando aos poucos, até permitir, de forma sempre muito cuidadosa e negociada, que alguns rituais mediúnicos começassem também a ser filmados”. 

Entre as curiosidades durante o processo de filmagem, a diretora de Aparição explica o nascimento desse projeto. “Aparição nasceu como instalação, apresentada inicialmente na 22ª Bienal Sesc_Videobrasil, em São Paulo, em outro formato: dois canais, em uma caixa preta”.

E nessa perspectiva de dois canais, cresceu uma ideia: “Sempre que me perguntam ‘por que duas telas?’, às vezes eu respondo brincando: ‘porque sim’ (risos). Simplesmente porque há coisas que a gente sente antes de entender. Entendemos que o díptico permitia pensar na imagem menos como índice ou representação, e mais como lugar de indeterminação e de invisibilidade, incessantemente deslocada e construída por uma dimensão coletiva — um “ver junto” a partir de uma certa cosmovisão, certas corporeidades e territorialidades”.

Agora, Camila Freitas vive a expectativa pela exibição na capital capixaba, no 32º Festival de Cinema de Vitória. “O filme estreou no Doclisboa e passou por Málaga e, no Brasil, por ora só em Tiradentes. Ainda está iniciando seu caminho e fico feliz que ele possa pousar nesse que é um festival muito especial, em uma cidade pela qual tenho muito apreço. Estou bastante animada”.

32º FCV

32° Festival de Cinema de Vitória conta com patrocínio da Petrobras e com patrocínio institucional do Instituto Cultural Vale e do Banestes, através da Lei de Incentivo à Cultura. Conta com o apoio da TV Gazeta, da Rede Gazeta, da Carla Buaiz Jóias, do Canal Brasil e do Hotel Senac Ilha do Boi, da TVE e do Fórum dos Festivais. Conta também com parceria do Sesc Espírito Santo. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte – IBCA.

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