31º Festival de Cinema de Vitória: sessão cheia na segunda noite de exibições na tela do Teatro Glória

A noite do último domingo (21) teve o primeiro dia da 28ª Mostra Nacional de Curtas, que vai até quarta-feira (24) na programação do 31º Festival Cinema de Vitória, que acontece de 20 a 25 de julho, na capital capixaba. As produções selecionadas para exibição foram de Espírito Santo, São Paulo, Alagoas, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

O curta que abriu a sessão é do diretor Arthur Felipe Fiel, que conta a história sobre a relação de um avô e seu neto, interrompida por conta da pandemia da Covid-19. Essa é a premissa da animação Saudades Em Cor. A ideia do filme surge em meio à preocupação do diretor com as crianças e a relação delas com suas famílias. “Sou muito orgulhoso de ter uma equipe maravilhosa para fazer Saudades em Cor. Sou nordestino, natural de Aracaju (SE), comecei a estudar Cinema lá mesmo. Mudei para Vitória em 2019, na exata semana que estava acontecendo o Festival de Cinema de Vitória. Não tinha contato com ninguém, e percebi que era o melhor momento possível. Estar aqui é um privilégio, uma honra, porque pude encontrar pessoas que hoje se tornaram colegas de trabalho. Hoje sou professor do curso de Audiovisual na Ufes e me sinto em casa nesse lugar”, disse Arthur Fiel.

Na sequência, o filme Quinze Quase Dezesseis aborda o assédio sexual, crime previsto no Código Penal Brasileiro, Artigo 216-A, que prevê punição para quem constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual. “O filme foi feito em São Paulo e a Thais é incrível. Ela foi me ver numa quadra de basquete e deu super certo essa experiência de atuação. Mostramos no filme o que muitas meninas passam, que é sofrer abuso sexual”, destacou Jészz Amadeus, atriz que interpretou a protagonista do curta.

A terceira exibição foi do curta Samuel Foi Trabalhar, de Janderson Felipe e Lucas Litrento. A ideia do filme surgiu em meio ao trânsito de Maceió, quando observaram um rapaz negro vestido de engenheiro branco (boneco), fazendo a propaganda de uma construtora. “Cheguei com um filme bem colorido. Desde janeiro estamos rodando em festivais. Está reverberando a emoção da audiência jovem e é um filme que dialoga com esse público, falando sobre o primeiro emprego para o jovem de periferia. Nosso dia a dia, a partir das nossas vivências, mas com essa vontade de fazer esse cinema, esse brinquedo”, frisou Lucas Litrento.

Fechando a primeira noite da 28ª Mostra Nacional de Curtas, o filme Se Eu Tô Aqui é Por Mistério, ambientado no Rio de Janeiro em 2054. A travesti Dahlia desembarca no porto com uma missão: fundar o Clã mais poderoso que já existiu e, assim, derrotar a Ordem da Verdade. “Dirigi e montei o filme. É de bruxaria e mistério, com pitada de horror. Falaram que é o diálogo que o (Dario) Argento odiaria”, comentou Clari Ribeiro, referenciando o cineasta italiano conhecido por seus filmes de terror moderno. 

“É a primeira vez que estou aqui e quero agradecer a curadoria do Festival por ter selecionado, e toda equipe que me acolheu, e vocês que vieram assistir. O filme foi produzido e protagonizado por pessoas trans. Cada vez mais é necessário falar sobre isso. Estou muito feliz que esse filme está circulando em vários festivais no Brasil e pelo mundo. Meu desejo é que cada vez mais e mais as pessoas trans tenham financiamento para fazer filmes”, completou.

14ª MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL DE LONGAS
Os diretores e uma das protagonistas do filme Não Existe Almoço Grátis. Foto: Sérgio Cardoso/ Acervo Galpão IBCA

Após a sessão com os curtas, foi exibido o segundo longa da 14ª Mostra Competitiva Nacional de Longas. De Marcos Nepomuceno e Pedro Charpel, que estavam presentes na sessão, o documentário Não Existe Almoço Grátis. O filme apresenta três coordenadoras do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), da maior favela brasileira, Sol Nascente (DF). “É nosso filme de estreia, meu e do Pedro. Resumidamente, esse é um filme é um instrumento de luta e um convite de formação de alianças, então a gente convida vocês a se movimentarem junto com as nossas protagonistas e com o MTST”, falou Marcos Nepomuceno.

As protagonistas Bizza, Jurailde e Socorro representam as lideranças durante os preparativos de refeições para centenas de pessoas em Brasília, para a cerimônia de posse do terceiro mandato do atual Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva. Pela primeira vez em Vitória, Jurailde Rodrigues foi ao palco com os diretores. “Estou muito grata. Sou coordenadora do MTST, e para mim é uma honra participar do Festival de Vitória. Quando desci no aeroporto, fiquei maravilhada pela cidade, por ver tanto verde. Não é sempre que tem uma mulher preta e periférica numa tela de cinema!”.

Pedro Charbel, também presente na sessão, falou sobre a importância de apoiar os movimentos sociais e de como o filme é uma ferramenta de apoio. “Esse é um filme em movimento. A gente acredita que fazer esse filme nesse contexto é fundamental. A luta não acabou. Apoiem os movimentos sociais.”

O 31º Festival de Cinema de Vitória conta com o patrocínio master do Instituto Cultural Vale e Petrobras, através da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério da Cultura. Conta também com o patrocínio da ArcelorMittal através da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba, Secretaria da Cultura do Espírito Santo. Tem apoio da Rede Gazeta, do Canal Brasil, do Canal Like, do Sesc Glória, da Carla Buaiz Jóias e da TVE Espírito Santo. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA).

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