Memória é o foco do Debate 25ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas que encerra a janela audiovisual do 28º Festival de Cinema de Vitória

Aconteceu na manhã deste domingo (28) o último Debate 25ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas, com foco no programa 5 da janela de exibição. Mediado pelo jornalista e crítico de cinema, Filippo Pitanga; e pela doutoranda em psicologia e cinema pela USP e crítica de cinema para o portal Geledés, Viviane A. Pistache, o encontro teve a participação de Bruno Ribeiro, diretor de Gargaú; Luana Laux, diretora de Três Graças; Pedro Gonçalves Ribeiro, diretor de O Resto; e Bernardo Ale Abinader, diretor de O Barco e o Rio.

O bate-papo começou com Bruno Ribeiro contando um pouco sobre o processo de criação do seu curta. “Gargaú foi um filme feito muito rápido. Da ideia até a conclusão do filme, foi entre duas e três semanas, aliás, não. Da ideia em si, mas de quando começam a vir algumas ideias na minha cabeça. Ideias mais concretas. Tudo começou com um convite da última edição do Janela Internacional de Cinema, que fez uma edição com filmes comissionados, eles fizeram um convite para as pessoas fazerem curtas sobre memória. A única diretriz ou provocação era essa. E a primeira coisa que veio na minha cabeça foi essa casa que eu morei grande parte da minha vida com minha vó, em Gargaú, porque essa é uma casa que ao longo dos anos foi acumulando vários objetos que eu me refiro como memória da família. Eu sabia que lá eu teria um arquivo interessante pra mexer. Inicialmente eu não pensava exatamente o que o filme se tornou, eu só sabia que eu queria lidar com essa casa mas não tinha pensado em uma forma”.   

Na sequência, Luana Laux compartilhou as experiências de produção e filmagem do seu filme realizado no interior do Espírito Santo. “O processo do Três Graças começou tem uns três anos antes no meu encontro com o roteirista, Leo Alves, e a gente foi conversando cada vez mais sobre essas mulheres e essas representações. Depois a gente fez uma viagem pra cidade de Muqui, no interior do Espírito Santo, onde a gente encontrou essa casa grande e começamos a conversar como seria pensar nessa casa como um lugar ancestral. Onde essas mulheres pudessem sonhar e ao mesmo tempo ter dores e estarem conectadas de alguma forma. E desde então o roteiro mudou muitas vezes. E, em relação a gestão, foi um processo bem tenso como todo curta-metragem independente. Foi o velho trabalho de equipe mesmo pra fazer acontecer. O fato de ser uma locação só, no interior do Espírito Santo ajudou muito a gente a poder realizar também: fazer parcerias, economizar. A gente ficou hospedado na locação. A gente fez tudo em cinco dias. Foi muito intenso”.  

Pedro Gonçalves Ribeiro apontou as familiaridades da sua obra com o tempo presente. “O Resto nasceu três anos atrás, quase quatro, no final de 2017, de uma vontade minha de filmar BH – que já era uma cidade que eu não morava – mas era a cidade que eu nasci e cresci, e também de entender o contexto político e social que estava acontecendo em volta. Só que eu queria muito uma narrativa e ela apareceu um dia, quando eu estava rolando o Facebook, e pipocou uma notícia de uma espanhola que tinha sido declarada morta por engano e passava dez anos na justiça tentando provar sua própria vida. Aquilo ali pra mim representava tudo que a gente estava vivendo. Eu nem sabia de covid, de nada. Mas pra mim aquilo era uma metáfora pra isso tudo. Daí nasceu o filme, que foi filmado em 2018. Só que eu precisei desse tempo todo pra trabalhar e ele acabou nascendo agora, três anos depois, e ecoando ainda mais com tudo que a gente está vivendo. É uma carta de amor pra BH e, pra mim, um filme sobre memória e resistência”. 

Bernardo Ale Abinader também falou do mundo contemporâneo a partir de suas memórias e vivências universitárias. “O Barco e o Rio é um curta que nasceu, a princípio, de uma atividade da faculdade de audiovisual que eu fiz aqui no Amazonas. Inclusive é um curso que não existe mais. Eu estava lá em uma atividade, que tinha uma imagem, e começou a surgir essa ideia de tratar dessas duas irmãs que moram nesse barco. Eu sou aqui do Amazonas, eu fui muito pro interior na infância e andei muito de barco na infância. Eu lembro muito das mulheres nesses barcos. E daí foi surgindo, eu sempre tive essa vontade de tratar de uma história de duas irmãs.Eu gosto muito de histórias familiares. Também veio da vontade de tratar um pouco dessa dicotomia que eu vejo muito aqui na cidade, no país e de certa forma no mundo todo, que é o crescente conservadorismo que aumenta com as pessoas que não se encaixam nessas ideias fechadas de mundo”.   

Confira na íntegra o Debate 25ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas 

On-line

O Festival de Cinema de Vitória é o maior e mais importante evento de cinema do Espírito Santo. Entre os dias 23 e 28 de novembro, o evento será realizado em formato on-line e gratuito, com as mostras exibidas na plataforma Innsaei.tv. Os filmes estarão disponíveis para o público por 24 horas após a estreia.

O 28º Festival de Cinema de Vitória conta com o patrocínio do Ministério do Turismo, através da Lei de Incentivo à Cultura. Conta com o apoio da Rede Gazeta, da Tower Web e do Banestes. Conta também com o apoio institucional do Canal Brasil, da ABD Capixaba, da Carla Buaiz Jóias, da Inssaei.tv, do Centro Cultural Sesc Glória e da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA).