Histórias pessoais transformadas em filmes universais. Esse foi o foco da 6ª Mostra Cinema e Negritude que trouxe seus realizadores para ampliar as questões colocadas no audiovisual no debate sobre os filmes apresentados na janela audiovisual. Mediado pela doutoranda em psicologia e cinema pela USP e crítica de cinema para o portal Geledés, Viviane A. Pistache; o bate-papo teve a participação de Antonio Pitanga, ator do filme Olhos de Cachoeira, de Adler Paz; Dandara de Morais, diretora de As Vezes que não Estou Lá; Fabi Andrade, diretora de 25 Anos sem Asfalto; e Higor Gomes, diretor de Forrando a Vastidão.
Dandara de Morais contou um pouco do processo de criação do seu curta que parte de sua história pessoal para abordar o transtorno de Boderline. “Surgiu quando eu quis dirigir um filme e contar a minha história. Que é uma história de muita angústia e que vem lá dos meus 17 anos – hoje eu tenho 31. Eu tenho um transtorno, que se chama Transtorno de Personalidade Boderline. Esse transtorno é uma coisa que nunca foi diagnosticada até 2019. Então eu tinha essa ideia, de uma mulher, no alto de um prédio, e eu comecei a escrever esse roteiro, de trás pra frente, mostrando o meu cotidiano, de uma pessoa que toma remédio e tal. E quando eu descobri que eu era borderline eu alterei esse roteiro pra dar conta das minhas aflições, das coisas que eu sentia e também do transtorno. E eu comecei a adicionar camadas do que estava na minha cabeça, na minha vivência, das minhas experiências. Apesar de não ser um documentário são todas coisas reais e que aconteceram comigo”.
Antonio Pitanga abriu sua fala dizendo da importância do curta-metragem para a formação de novos diretores. “Eu sou uma pessoa de cinema, que vivo isso há mais de 60 anos. Independente de ter feito mais de 80 longas-metragens eu tenho uma paixão pelo curta porque é onde nascem os grandes cineastas. É nesse universo que você começa a tecer, a construir”. Depois o ator falou um pouco sobre o seu personagem. “”olhos de Cachoeira entra em um universo apaixonante, porque ele trz para um primeiro plano um personagem negro, intelectual, um cara que ganhou vários prêmios, e que ficou cego. E que abandona tudo e que constrói através de uma outra criatura, de um outro personagem, um universo que a sociedade normalmente deixa de lado. O encontro dessas duas criaturas: um escritor, intelectual e cego e a outra menina que tenta ganhar a vida, querendo subir na vida. A união desses dois personagens pra mim é fascinante”.
Fabi Andrade falou da experiência de morar em um bairro que demorou anos para ser pavimentado e de como ela transformou a experiência pessoal em cinema.”O filme é sobre o bairro em que eu cresci. O personagem principal chama Rose, que é o nome da minha mãe, e eu cresci em Vargem Grande, que é uma vitória de um movimento de moradia aqui de São Paulo. Vargem Grande é uma ocupação e desde criança. Essa questão, que depois vira cinema na minha cabeça, é que a primeira rua asfaltada do bairro foi a rua do presídio e isso brotou um paradoxo na minha cabeça. Eu era criança e aquilo ficou latente na minha cabeça. E nas idas e vindas pra visitar meus pais no Vargem Grande eu tive a ideia de fazer um filme que contasse sobre a minha infância nesse bairro, nessa ocupação e que falasse e que falasse sobre as mulheres do bairro”.
Higor Gomes contou sobre a experiência de transformar o período de isolamento social, algo bem íntimo, em um produto audiovisual. “Ele surgiu, ele foi filmado em junho de 2021. Desde o começo de 2020, a gente passou por diversos sentimentos bem coletivos, como ansiedade, raiva. O senso de coletividade surgiu bastante. E eu senti que estava atravessando a casa inteira: eu, minha mãe, meu pai, meus irmãs também. Eu também notei uma superstição de imaginar que o futuro vai ser melhor e coisa e tal e eu senti que isso estava aflorado em todos nós nesse um ano e meio. Eu vim coletando esses sentimentos e procurando uma maneira de externalizá-los e colocar em corpos também, então eu construí esse filme tentando colocar esses sentimentos na tela. Consegui emprestado equipamento de filmagem com vários amigos que foram ótimos no sentido de apoiar o filme e trouxe pra casa pra gente se filmar. Então é um filme que parte da minha casa. Acredito que seja o filme mais pessoal que eu tenha”.
Confira na íntegra o Debate 6ª Mostra Cinema e Negritude
On-line
O Festival de Cinema de Vitória é o maior e mais importante evento de cinema do Espírito Santo. Entre os dias 23 e 28 de novembro, o evento será realizado em formato on-line e gratuito, com as mostras exibidas na plataforma Innsaei.tv. Os filmes estarão disponíveis para o público por 24 horas após a estreia.
O 28º Festival de Cinema de Vitória conta com o patrocínio do Ministério do Turismo, através da Lei de Incentivo à Cultura. Conta com o apoio da Rede Gazeta, da Tower Web e do Banestes. Conta também com o apoio institucional do Canal Brasil, da ABD Capixaba, da Carla Buaiz Jóias, da Inssaei.tv, do Centro Cultural Sesc Glória e da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA).