A produção audiovisual capixaba é pautada pela criatividade e diversidade de narrativas. O Festival de Cinema de Vitória sempre foi uma janela para o trabalho dos realizadores locais, tanto nas diversas mostras realizadas pelo evento quanto na janela exclusiva Foco Capixaba.
Um recorte, com foco na representatividade e na resistência, será exibido dentro da Mostra Panorama Espírito Santo, que integra a programação do Festival de Cinema de Vitória: Panorama Diversidade 27 Anos, projeto que conta com recursos da Lei Aldir Blanc, e que acontece a partir de 24 de fevereiro, às 19 horas, e segue até 26 de março, em formato online e gratuito, no Canal de Youtube do Festival.
Com curadoria do cineasta, pesquisador e professor do curso de Cinema e Audiovisual da Ufes, Erly Vieira Jr; e do produtor audiovisual, editor e curador Waldir Segundo, a mostra apresenta sete curtas-metragens que dialogam com a proposta plural do Festival de Cinema de Vitória e apresentam um recorte particular sobre a produção local.
“Para discutirmos questões de diversidade e resistência no cinema capixaba, temos aqui uma seleção bastante pautada pelo olhar feminino e também pelo olhar negro, atentando para o fato de que a diversidade de gênero e raça por trás das câmeras é um processo que só muito recentemente ganhou força aqui no ES” dizem a dupla de curadores.
Filmes
A Mostra Panorama Espírito Santo abre com o filme Agrados para Cloê, de Jefinho Pinheiro, que leveza a poesia para a tela. Na sequência, Água Viva, de Bárbara Ribeiro, fala sobre mulheres na terceira idade; Vento Sul, de Saskia Sá, fala sobre a mulher no universo underground capixaba na década de 1980. Mulheres do Congo, é um documentário sobre a presença feminina na cultura popular. Encerrando a mostra, três filmes sobre a vivências distintas de pessoas negras: as relações de afeto, no curta Domingo, de Henrique do Carmo; a violência urbana em Braços Vazios, de Daiana Rocha e a reaproximação de pai e filha em Anchieta – Nossa História, de Hégli Lotério.
Texto da Curadoria Mostra Panorama Espírito Santo
Para discutirmos questões de diversidade e resistência no cinema capixaba, temos aqui uma seleção bastante pautada pelo olhar feminino (cinco títulos) e também pelo olhar negro (quatro títulos), atentando para o fato de que a diversidade de gênero e raça por trás das câmeras é um processo que só muito recentemente ganhou força aqui no ES. Começamos com a poesia e a riqueza narrativa de Agrados para Cloê, filme revelado no Concurso de Roteiros do Festival de Vitória. Em seguida, falamos das mulheres de terceira idade (Água Viva), de um mergulho no underground capixaba dos anos 80, sob a ótica do desejo feminino (Vento Sul) e de uma valorização do olhar e da presença feminina nas tradições culturais capixabas, em Mulheres do Congo, dirigido pela primeira realizadora trans capixaba, Sandy Vasconcelos. O programa também lança três olhares sobre as vivências de famílias negras e periféricas capixabas: dos ritmos e afetos de uma reunião de final de semana (Domingo) à questão do extermínio da juventude negra, sob a perspectiva de uma mãe (Braços Vazios) ao resgate do vínculo familiar entre pai e filha num documentário em primeira pessoa que mergulha na história familiar e da própria comunidade (Anchieta – Nossa História).
Erly Vieira Jr e Waldir Segundo
Panorama Diversidade 27 Anos
O Festival de Cinema de Vitória: Panorama Diversidade 27 Anos é um projeto retrospectivo que apresenta 20 curtas-metragens exibidos no Festival de Cinema de Vitória ao longo de quase três décadas de existência.
A programação foi dividida em três programas: Mostra Panorama Brasil, que trata da diversidade de temas associados ao Brasil; Mostra Panorama Espírito Santo, que joga luz sobre o cinema produzido no Estado que sedia o evento; e Mostra Panorama Diversidade, que trata da diversidade sexual e de gênero.
Com realização do Instituto Brasil de Cultura e Arte, o projeto conta com recursos da Lei Aldir Blanc, via Edital de Seleção de Projetos e Concessão de Prêmio Artes Integradas 2020, por intermédio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult ES), direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.
FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA
PANORAMA DIVERSIDADE 27 ANOS
MOSTRA PANORAMA ESPÍRITO SANTO
Agrados para Cloê (Jefinho Pinheiro, ES, FIC, 2007, 21’)
Cloê vive aprisionada pelos ponteiros dos relógios de Domênico. Rubens faz uma promessa para a Santa: entregar os “agrados” para a prometida do tio Afonso. Entre a espera de um casamento e o alcance da promessa, a natureza anuncia os seus pequenos milagres através das “formigas bordadeiras”. Com uma narrativa poética, belas paisagens e uma abordagem lúdica, o filme fala de fé e do tempo.
Água Viva (Bárbara Ribeiro, ES, DOC, 2018, 13’)
Mulheres de uma turma de hidroginástica conversam submersas sobre questões femininas da terceira-idade. Maternidade, trabalho e aposentadoria são alguns temas abordados.
Domingo (Henrique do Carmo, ES, DOC, 2018, 5’)
O retrato de um final de semana em família na periferia capixaba.
Mulheres do Congo (Sandy Vasconcelos, ES, DOC, 2014, 16’)
O congo uma das principais manifestações culturais de Cariacica. A batida do tambor, o canto doce da corneta e a origem do congo são cercados de mistérios, assim como o surgimento da mulher.
Braços Vazios (Daiana Rocha, ES, FIC, 2017, 16’)
Vera é uma mãe que perdeu seu filho, Carlos, de forma trágica. Ela não consegue se recuperar do trauma e se apega às lembranças numa tentativa de amenizar seu sofrimento. Até que um dia Vera encontra um bilhete que a obriga a fazer uma escolha.
Vento Sul (Saskia Sá, ES, FIC, 2014, 13’)
Uma mulher retorna a sua cidade após anos fora. “Volto à Vitória num dia de sol de junho, quando o vento vira sul e o céu se torna azul. Volto sem nunca ter saído. Vitória… Minha ilha. A cidade que nunca foi minha.
Anchieta – Nossa História (Hegli Lotério, ES, DOC, 2014, 15’)
Time de futebol amador ativo há mais de 30 anos no bairro de Argolas, em Vila Velha, no Espírito Santo, Anchieta desperta em Hegli Lotério, filha de um de seus fundadores, a curiosidade quanto às histórias que tanto escutou na infância. Nesse contexto, o documentário é uma busca por esses fragmentos que culminam em outras histórias de laços de amizade e família.