‘Perpétuo’ apresenta novas narrativas sobre a periferia carioca no 26ºFCV

Filme traz um novo olhar sobre os moradores de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense

Criar, a partir da ficção no audiovisual, um novo olhar sobre o lugar em que cresceu. Ampliar as possibilidades de vivências, onde as imagens estereotipadas de violência dessem lugar ao afeto e ao pertencimento. De maneira geral e resumida, esse é o ponto de partida de Perpétuo, de Lorran Dias, um dos filmes selecionados para a 23ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas do 26º Festival de Cinema de Vitória, que acontece entre os dias 24 e 29 de setembro, no Centro Cultural Sesc Glória.

O filme foi rodado em Cerâmica, bairro de Comendador Soares, em Nova Iguaçu, onde Lorran Dias morou dos 7 aos 19 anos. De acordo com o diretor, a ‘Baixada’ é um complexo de cidades conhecido por quem é de fora como ‘cidades dormitórios’ por se afastar da capital do Rio de Janeiro.  Essa região, segundo ele, também sofre um processo de desumanização midiática e também são “territórios constantemente expostos a táticas cruéis de dominação, extermínio e estigmatização”.

Ao retornar para a capital, suas impressões sobre como a sua região era retratada pela grande mídia foram confirmadas. “Sempre desconfiei das narrativas externas que se contradiziam às minhas narrativas empíricas, de morador. Quando tive que voltar à capital do Rio de Janeiro, adulto, para cursar a graduação em Comunicação na UFRJ, isto ficou claro”.

Assim foi surgindo a proposta de imprimir um novo olhar para a região e o projeto de Perpétuo. “Desejei através da ficção e do seu caráter fabulativo, criar outros registros sobre Nova Iguaçu, que não o pense a partir da generalização da violência, mas da experiência afetiva e territorializada. Criamos assim outros imaginários para e a partir do lugar, convidando os moradores e suas histórias a serem parte da história do filme, e revisitassem sua vida com ele” explica o diretor.

Curiosidades

Uma das cenas mais originais de Perpétuo não estava no roteiro. O momento em que a protagonista do curta, Rainha Timbuca, canta I Have Nothing, uma das músicas mais famosas do repertório de Whitney Houston, surgiu de improviso, e eternizando uma brincadeira que o diretor e a atriz fazem no dia a dia.

“Eu e ela temos a mania de cantar inglês assim, sinalizando (e se assumindo nisso) que não sabemos a língua. Entretanto, descobrimos que era um exercício de teatro (gromelô) e sempre por sabermos da mania um do outro, resolvemos arriscar na última diária com steadycam” com Lorran.

Outro destaque do filme é a representatividade. O curta é formado por 75% de pessoas negras, além de diversas pessoas que já tiveram experiências em zonas do Rio de Janeiro fora do Eixo centro-zona sul da capital. Isso também reflete na escolha das locações, como cenas gravadas em ruínas de fazendas de engenho e cemitério de escravizados e indígenas de Nova Iguaçu, onde o filme foi inteiramente gravado.

Sobre a seleção para o 26º Festival de Cinema de Vitória, Lorran ressalta a importância de exibir seu filme para além do seu Estado. “Achei demais poder estar indo para Vitória, pois é sempre incrível a experiência de apresentar um trabalho para uma cidade que nunca se foi. Mostrar um território, tão invisibilizado no seu próprio Estado para um outro Estado com culturas, fluxos e formas particulares de se viver os centros e periferias. Estou ansioso e me interessando para aproveitar este momento e conhecer a cena cinematográfica e artística, uma ponte aqui no sudeste pra somar na rede e poder trocar constantemente”.

Perpétuo será exibido durante a 23ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas, que faz parte da programação do 26º Festival de Cinema de Vitória. A mostra acontece entre os dias 25 e 28 de Setembro no Centro Cultural Sesc Glória.

O 26º Festival de Cinema de Vitória tem o patrocínio do Ministério da Cidadania, através da Lei de Incentivo à Cultura, da ArcelorMittal, do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDE, do Fundo Setorial do Audiovisual – FSA e da Ancine, conta com o copatrocínio da EDP e do Banestes, com o apoio da Rede Gazeta, da AdoroCinema, da Ceturb ES, da Prefeitura Municipal de Vitória e da Secretaria de Estado de Turismo (Setur-ES). O Festival conta também com o apoio institucional do Centro Técnico do Audiovisual – CTAv, da Mistika, da CiaRio, da Link Digital, do Centro Cultural Sesc Glória, da Jangada VOD, do Canal Brasil e da Carla Buaiz Jóias. A realização é da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte.

Serviço
23ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas
Data: 25 a 28 de Setembro
Local: Teatro Glória (Centro Cultural Sesc Glória) 
Entrada franca

PERPÉTUO (Lorran Dias, FIC, RJ): Século XXI, América do Sul, Brasil, Rio de Janeiro, Baixada Fluminense, Nova Iguaçu, Cerâmica e Comendador Soares: Silvia e Alex voltam a morar juntos. Forças invisíveis do passado se atualizam nas ruínas do presente. Vida em movimento.

Confira a lista dos filmes selecionados para a 23ª Mostra Competitiva Nacional de Curtas:

– ARQUITETURA DOS QUE HABITAM (Daiana Rocha, EXP, ES)
– OS MAIS AMADOS (Rodrigo de Oliveira, FIC, ES)
– SANGRO (Tiago Minamisawa, Bruno H Castro e Guto BR, ANI, SP)
– DÔNIARA (Kaco Olímpio, FIC, GO)
– PERPÉTUO (Lorran Dias, FIC, RJ)
– REFÚGIO (Shay Peled e Gabriela Alves, DOC, ES)
– A PRAGA DO CINEMA BRASILEIRO (William Alves e Zefel Coff, EXP, DF)
– NEGRUM3 (Diego Paulino, DOC, SP)
– O ÓRFÃO (Carolina Markowicz, FIC, SP)
– GUAXUMA (Nara Normande, ANI, PE)
– RISCADAS (Karol Mendes, DOC, ES)
– FARTURA (Yasmin Thayná, DOC, RJ)
– TEMPESTADE (Fellipe Fernandes, FIC, PE)
– QUANDO ELAS CANTAM (Maria Fanchin, DOC, SP)
– SOBRADO (Renato Sircilli, FIC, SP)
– O PÁSSARO SEM PLUMAS (Tati Rabelo e Rodrigo Linhales, ES)
– COR DE PELE (Lívia Perini, DOC, PE)