Não é novidade que a identidade visual do Festival de Cinema de Vitória (FCV) costuma roubar a cena. Pelo menos até as portas do teatro se abrirem e as mostras começarem, no dia 3 de setembro, quem dá as boas vindas ao público é a logo do evento. Através das mudanças que a marca passou, é possível contar um pouco da história que o próprio Festival passou ao longo desses 25 anos, evento marcado pela constante transformação.
Na última edição, a programação visual do FCV propôs um diálogo com o cinema de Glauber Rocha e fez uma homenagem aos 50 anos de “Terra em Transe”, considerado um das obras mais emblemáticas do cinema nacional. Filme fundamental na carreira do cineasta, ele foi a inspiração para o designer Paulo Prot conceber a identidade do Festival. A criação de Prot se baseou nas famosas fotografias em que Glauber Rocha faz uma paródia do conto dos três macacos sábios.
A frase de Glauber, de que “cinema é pra ver e pra ouvir”, também foi alicerce do processo criativo do designer. Prot explica que levou em consideração os aspectos fixos da marca, mas também ficou atento à significação das características mutáveis: “Os elementos mutáveis surgem com o objetivo de demonstrar o ineditismo de cada edição do Festival”.
Um visual camaleônico
A mudança constante é um direcionamento inerente à própria essência do FCV. Já na primeira edição sob o comando da Galpão Produções, em 1997, o então 4º Vitória Cine Vídeo já tinha na ruptura sua única regra. Exemplo disso é o Troféu Marlin Azul, criado pelo artista visual Orlando da Rosa Farya, o Lando. Diferente dos troféus tradicionais, o Marlin Azul, que premia os vencedores das mostras competitivas, foi concebido sem o pedestal.
“Fiz um troféu que pudesse se sustentar como forma autônoma. É um movimento que remete à película, à fluidez da imagem”, explica Lando. O artista trabalhou na identidade visual do Festival até sua 21ª edição, em 2014. “Para cada edição eu criava uma marca. Meu entendimento era que, a cada ano, a marca aparecesse como uma possibilidade nova de pensar o festival”, diz.
Lando destaca a identidade do 14º Vitória Cine Vìdeo (imagem no topo da matéria), concebida a partir de sua experiência no interior do Pernambuco. O artista fotografou a casa de Dona Vitalina e Sei Alcino em 2007, e trouxe suas impressões daquele cotidiano para a programação visual do evento: “Tematizei a partir dessa miscelânea que é o Brasil. Focalizei dentro de uma casa no interior de Pernambuco, com imagens que seriam uma referência de um Brasil mais profundo”.
Lando, formado em Artes, disse que nunca realizou outro trabalho de identidade visual após o Festival de Cinema de Vitória. A razão é sua própria concepção do trabalho que realizou: “Era um projeto artístico, não exatamente gráfico. O Festival dialoga com outras linguagens. Eu estava dentro da produção e gostava disso.”
Asas da Vitória
Em 2015, a identidade visual do FCV ganhou uma cara totalmente nova pelas mãos da designer Brena Ferrari. Ela comandou outra reformulação na marca, desta vez incidindo na transição entre fotogramas (película) ou frames (vídeo). O objetivo primordial, segundo ela, era sair do óbvio: “Trabalhei os cortes horizontais na tipografia para sugerir além de movimento, os intervalos entre os frames da película dos filmes”, argumenta a designer.
Em dupla com o designer Andrius Machado, Brena também foi responsável por criar o Troféu Vitória, em substituição ao Troféu Marlin Azul. O novo objeto é uma homenagem à capital que recebe o evento há 25 anos e também foi balizado a partir do formato da película: “No caso do troféu, a película se transforma numa asa, em referência à deusa Vitória, que é alada.” Brena também assina projeto gráfico e visual das edições de 2016 e deste ano.
Uma realização da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA), o 25º Festival de Cinema de Vitória conta com o patrocínio do Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura, da Petrobras, do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), do Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE), do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), da Ancine, e do Governo Federal, com Apoio da Rede Gazeta, da Prefeitura Municipal de Vitória, e da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo. O Festival conta também com Apoio Institucional do Centro Técnico do Audiovisual (CTAv), do Canal Brasil, da Arcelor Mittal, da Link Digital, da Mistika, da Cia Rio, da UVV e da Marlim Azul Turismo. O lounge do Festival é co-realizado pela Galpão Produções e pela molaa.