Uma das janelas de exibição de curtas-metragens do 25º Festival de Cinema de Vitória, a 7ª Mostra Corsária exibirá dez filmes que apostam na experimentação da linguagem como forma de expansão artística do cinema. As obras participam da disputa pelo Troféu Vitória, com sessões nos dias 4 e 5 de setembro, a partir das 16h, no Teatro Carlos Gomes. A entrada é gratuita.

Reconhecida janela de exibição dedicada à experimentação de linguagens e estéticas, atraindo estudiosos do audiovisual, a Mostra Corsária se inspira no filme “Alma Corsária”, de Carlos Reichenbach (1945-2012). A mostra reverbera as influências do diretor na nova geração de cineastas brasileiros.

A 7ª Mostra Corsária teve curadoria do cineasta e professor Erly Vieira Jr., da crítica e pesquisadora de cinema Kênia Freitas, da mestranda em Cinema e Audiovisual Luana Cabral e do pesquisador e programador Waldir Segundo. A janela é de caráter competitivo com avaliação de júri técnico que premia dois filmes, sem ordem de classificação, com o Troféu Vitória.

Nesta edição, a mostra traz filmes realizados em seis diferentes Estados do Brasil: do Ceará, temos Atalanta, de Fernanda Brasileiro, e Boca de Loba, dirigido por Bárbara Cabeça; também do Nordeste, temos Os Suspiros Primários, de Jucélio Matos, e Bup, de Dandara Morais, ambos de Pernambuco. Do Sudeste, integram a mostra Os que se vão (MG), de Clarissa Campolina e Luiz Pretti, Materializações Luminosas, de Victor Neves (ES), Domingo, de Henrique do Carmo (ES), A Ilha do Farol, de Jo Sefarty e Mariana Kaufman (RJ), e A Flor Azul, de Roger Ghil (ES). O goiano Wide Awake, de Rafael Almeida, completa a seleção.

Para a curadora Luana Cabral, a diversidade de Estados que compõem a mostra se traduz na variação temática e estilística dos filmes selecionados. Mas como agrupar obras formalmente tão distintas?

“Um corsário compartilha com os demais um investimento sem traços identificáveis, sem qualquer coisa que se respalde na linguagem, que tem a ver com uma força rebelde e descabida, que pertence a cada filme em particular e que também atravessa todo um conjunto. E não necessariamente algo de sublime se dará na ocasião do encontro com o público, mas alguma brecha, nele, o filme encontrará, seja ela uma abertura para a dor, para o estranhamento, ou para a beleza”, explica Luana.

Como exemplo da diversidade entre os filmes da mostra, a curadora faz um paralelo entre as obras Domingo e A Flor Azul, em um eixo, e Bup, do outro lado: “Em Domingo e A Flor Azul, o documentário, em sua forma mais íntima, se utiliza do laço afetivo como dispositivo para o encontro e a descoberta de alguma ternura. Contrariamente, em Bup, a artista constrói um monumento ao silêncio: ao passo que confronta a si própria, ao mundo não oferece palavra.”

Embora as diferenças sejam notáveis, Luana também encontra pontos de interseção entre as obras Bup e Atalanta: “A clausura, em Bup provocada pela câmera, se faz presente em Atalanta também num corpo de mulher, cuja performance extrapola os limites da metáfora mitológica”, argumenta.

E há outros pontos em comum na lista de filmes contemplados. Um dos temas presentes nesta edição da mostra, a relação com o espaço urbano se apresenta nas obras Boca de Loba e Os que se vão, na medida em que o ambiente “transborda e reconfigura o cotidiano a partir das especificidade dos corpos e vidas inscritos”, segundo a curadora.

A Ilha do Farol e Os Suspiros Primários buscam um espaço além: “Em ambos os filmes, o grão do real é, mais do que uma partícula, um cristal de delicadezas. A performance, que se apresenta em toda a sua frontalidade em Os Suspiros Primários, garante em ambos os filmes a porosidade necessária para que um olhar em tela se infiltre na experiência, indo de encontro ao nosso”, afirma.

O “fluxo delirante e saboroso de imagens” é uma característica marcante de Wide Awake, para Luana. Também incidindo na mesma questão, Materializações Luminosas “revisita a própria ideia de fluxo ao impor ritmo às suas imagens, sejam elas visuais ou sonoras, com seus respectivos ruídos”, elabora a curadora.

Uma realização da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA), o 25º Festival de Cinema de Vitória conta com o patrocínio do Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura, da Petrobras, do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), do Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE), do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), da Ancine, e do Governo Federal, com Apoio da Rede Gazeta, da Prefeitura Municipal de Vitória, e da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo. O Festival conta também com Apoio Institucional do Centro Técnico do Audiovisual (CTAv), do Canal Brasil, da Arcelor Mittal, da Link Digital, da Mistika, da Cia Rio, da UVV e da Marlim Azul Turismo. O lounge do Festival é co-realizado pela Galpão Produções e pela molaa.

25º FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA

3 a 8 de setembro

Teatro Carlos Gomes, Centro de Vitória.

Entrada gratuita

7ª MOSTRA CORSÁRIA

Quando: Terça e quarta-feira, às 16h

Onde: Teatro Carlos Gomes

 

Terça-feira (4 de setembro) | 16h

Os que se vão (Clarissa Campolina e Luiz Pretti, EXP, 23′, MG). Um homem abandona a si mesmo, se transforma. Em um movimento constante ele atravessa a cidade sem pertencer à ela. Seus rastros desaparecem antes mesmo de se formarem, dissipando os limites entre realidade e sonho.

 

Atalanta (Fernanda Brasileiro, 11′, FIC, CE). O silêncio do corpo que leva os olhos a dançarem a potência do que tudo quer dizer. Um dedo que dança toda uma mitologia.

 

Boca de Loba (Bárbara Cabeça, FIC, 19′, CE). Pressões assediadoras das ruas. E um grupo de mulheres procura pela invocação de um espírito selvagem urbano.

 

Wide awake (Rafael de Almeida, EXP, 7’, GO). Uma mulher hipnotizada tem um sonho futurista. É um sonho sobre o amor, viagens siderais e um ataque de robôs alienígenas, por meio de imagens de arquivo da televisão do futuro.

 

A Flor Azul (Roger Ghil, DOC, 15’, RJ/ES). Memória, afeto e devoção. Nair caminha por sua casa com o coração: canta e floresce ao partilhar simplicidade e a raiz forte de sua sabedoria. Desabrocha a potência de uma pureza inabalável; contempla a natureza nas pessoas e leva a casa pra calçada. Em um portão florido, evoca sensibilidade e lembra da brevidade de ser flor, luz e amor em Jardim Sulacap, bairro do Rio de Janeiro composto majoritariamente por famílias de militares.

 

Quarta-feira (5 de setembro) | 16h

A Ilha do Farol (Jo Sefarty e Mariana Kaufman, FIC, 22’, RJ). História e lendas de uma misteriosa e inóspita ilha, também conhecida como Ilha Rasa, próxima a cidade do Rio de Janeiro. Entre o resgate histórico e a invenção, uma silenciosa família se lança ao mar em uma pequena embarcação, rumo ao encontro da ilha.

 

Domingo (Henrique do Carmo, EXP, 5’, ES). Um domingo em família na periferia brasileira.

 

Materializações Luminosas (Victor Neves, DOC, 17’, ES). Documentário de uma reunião mediúnica em um centro Espírita na cidade de Santa Maria de Jetibá, interior do Espírito Santo.

 

Os Suspiros Primários (Jucélio Matos, EXP, 20’, PE). Em um jogo de fé, as entidades espirituais Cigano Ezequiel, Caboclo Jiquiri e Sereia Berenice versam sobre amor, riqueza e saúde. Em um jogo de criação, o artista se debate entre inspiração e realização. Em peregrinação, o Diretor Jucélio Matos explora as potencialidades entre arte e espiritualidade.

 

Bup (Dandara de Morais, EXP, 7’, PE). Um tributo ao silêncio. Olá, ansiedade! Bup é a ausência do silêncio. Uma tragicomédia em ritmo frenético sobre a presença da angústia, incômoda insegurança e constante inquietude. Que pena que saí do útero.