O longa-metragem “Como Nossos Pais”, de Laís Bodanzky, foi exibido na noite de abertura do 24º Festival de Cinema de Vitória, evento realizado no mês de setembro, em Vitória. Essa participação rendeu ao filme os prêmios de Melhor Interpretação (Clarisse Abujamra), Melhor Direção e Melhor Filme (Júri Popular). Agora, esse longa segue na programação da versão itinerante do Festival e será exibido em quatro balneários do litoral capixaba.
O 24º Festival de Cinema de Vitória Itinerante será realizado de 05 de janeiro a 02 de fevereiro de 2018 e percorrerá o litoral do Espírito Santo com exibições gratuitas de filmes brasileiros. Uma realização da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte, esse circuito de cinema ao ar livre tem patrocínio do Ministério da Cultura, através da lei de incentivo à cultura, do Governo Federal e da Petrobras. Contribuindo com a formação de plateia, com a difusão do cinema nacional e com a promoção do lazer cultural, esta iniciativa também conta com o apoio da Rede Gazeta, da ArcelorMittal Tubarão, da Caixa Econômica Federal e das Prefeituras locais.
Sucesso de crítica, “Como Nossos Pais” apresenta uma trama que explora o embate geracional servindo de pano de fundo para abordar temas complexos, como a mortalidade, o feminismo e o papel da tecnologia nos relacionamentos atuais. Abaixo, confira o texto de Pedro Pimenta sobre o filme que foi produzido durante a Oficina de Crítica, atividade conduzida por André Dib durante o 24º Festival de Cinema de Vitória.
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Vivemos num mundo assolado pelo machismo, que está entranhado em nossa sociedade. Porém o machismo não se materializa apenas na agressão física ou verbal, ele se configura de forma interna, onde tais ações mostram a diferença de tratamento entre mulheres e homens na contemporaneidade, e dessa forma “Como Nossos Pais” encontra seu discurso perante a sociedade atual.
Primeiramente devo dizer que, como sou homem, não posso falar sobre como as mulheres sofrem historicamente de forma interna, somente posso passar o discurso que absorvi do filme, discurso esse que me fez repensar como enxergo a diferença social presente na atualidade. Dito isso, vamos ao que considero um dos melhores filmes do ano.
Dirigido por Laís Bodanzky (“Bicho de Sete Cabeças”), o filme conta a historia de Rosa (Maria Ribeiro), que, após uma descoberta passa repensar sua vida como esposa, mãe e principalmente, como mulher. Bodansky impõe uma direção muito íntima ao longa, de forma que a historia é contada pelo ponto de vista da personagem principal, o que nos faz ver e entender suas reações a certos acontecimentos. Vendo também, seus arrependimentos, decepções e frustrações. A diretora também implica um jogo de câmera muito eficiente, onde mostra dois ambientes distintos, exibindo a reação de dois personagens a um acontecimento, isto ajuda a construir a personalidade dos personagens.
Outro fator que merece ser exaltado são os diálogos, pois parecem conversas reais. A diretora consegue tal feito colocando os personagens para interromper um ao outro em uma fala, algo que trás uma verossimilhança muito bem vinda.
Voltando ao tema principal, o machismo é explorado no filme através do relacionamento da personagem da Maria Ribeiro com o personagem do Paulo Vilhena (Dado), mostrando o problema de uma forma diferente, apresentado pela ideia patriarcal que é imposta a mulher, onde ela tem que trabalhar, cozinhar, abrir mão de seus sonhos e o homem não deve mexer um dedo para ajuda-la.
Outra característica muito boa é a pequena fagulha de esperança, uma saída, representada pelo personagem Pedro (Felipe Rocha) e desenvolvida em seu relacionamento com Rosa. Porém, tal esperança é destruída de forma revoltante, mas necessária, a ponto de mostrar que a única que pode escalar do buraco onde se encontra, é a própria Rosa.
Dissertando sobre as interpretações, Maria Ribeiro e Paulo Vilhena dão um show nesse filme, tendo ambas as interpretações distintas mas fortíssimas. Outra que merece destaque é a Clarisse Abujamra (Clarice) que faz um contraponto fortíssimo a Rosa, porem não de forma antagônica, mas confronta a personagem para que ela possa rever sua postura e decisões. Entretanto, nem tudo são flores no campo interpretativo, o ator Herson Capri monta seu personagem de forma inconsistente, onde, o que o personagem representa é mais relevante que o próprio personagem.
Deve ser também comentado, uma atriz adolescente (cujo nome não consegui achar) faz uma personagem com muito a dizer, porém a atriz entrega uma interpretação medíocre diante dos demais.
Por último, uma cena que mexeu comigo de forma quase sobrenatural: uma montagem envolvendo um funeral, um piano e a música cantada por Elis Regina, “Como Nossos Pais”, que dá nome ao longa. A cena é trabalhada de forma majestosa, e fará os corações mais frios se aquecerem e os olhos mais desérticos se umedecerem.
“Como Nossos Pais” é um filme com uma direção excepcional, um elenco em sua maioria fantástico e com uma forte mensagem sobre o machismo e a visão patriarcal que se tem da mulher na modernidade.
Texto originalmente publicado no site Oficina de Crítica Cinematográfica