Videoclipes ganham espaço na programação do 24º Festival de Cinema de Vitória

Mostra que reúne 15 obras do gênero será realizada o dia 11 de setembro,
às 16h, no Teatro Carlos Gomes

 

Gênero que é pura experimentação, com forte influência outros produtos audiovisuais, como o cinema e a TV, o videoclipe ganha espaço na programação do 24º Festival de Cinema de Vitória. Quinze obras de seis Estados integram a 1ª Mostra Nacional de Videoclipes, que terá sessão no dia 11 de setembro (segunda-feira), a partir das 16h, no Teatro Carlos Gomes.  O festival segue até o dia 16 de setembro.

 

A mostra recebeu a inscrição de 61 vídeos de diversos gêneros musicais, entre eles clipes de artistas de expressão nacional. A curadoria ficou a cargo do jornalista, publicitário e produtor cultural Luiz Eduardo Neves, que também é diretor de algumas obras do gênero. As 15 produções selecionadas – sete delas do Espírito Santo – vão concorrer ao Troféu Vitória (Júri Popular).

 

“Foram levadas em conta a qualidade técnica e a experimentação da linguagem audiovisual no desenvolvimento do produto final. Mergulhados no suporte digital, vemos narrativas construídas tendo como base a ficção ou o documentário”, comenta o curador.

 

Uma realização da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA), o 24º Festival de Cinema de Vitória acontecerá entre os dias 11 e 16 de setembro e conta com o patrocínio do Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura, e da Petrobras, com o apoio institucional da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo, da Cesan, da Secretaria de Cultura da Universidade Federal do Espírito Santo, do Banestes e do Canal Brasil, e com o apoio da Rede Gazeta, da Prefeitura de Vitória, ArcelorMittal, da Academia Internacional de Cinema, da CiaRio, da Mistika e da Link Digital.

 

Videoclipe: Mostra apresenta o gênero que influencia a experimentação do audiovisual

(Texto do curador Luiz Eduardo Neves)

 

O 24º Festival de Cinema de Vitória apresenta a Mostra Nacional de Videoclipes. Este é o espaço para um gênero que é pura experimentação, cuja estética influencia outras manifestações audiovisuais contemporâneas, como a produção de TV, o cinema e a videoarte.

 

A mostra recebeu a inscrição de 61 vídeos de diversos gêneros musicais produzidos em 12 estados do país – Amazonas (1), Bahia (2), Espírito Santo (31), Goiás (1), Minas Gerais (3), Paraíba (1), Pernambuco (2), Paraná (9), Rio de Janeiro (2), Rio Grande do Sul (1), Santa Catarina (1) e São Paulo (7) -, entre eles clipes de artistas de expressão nacional, como o grupo de rap Haikaiss e a cantora Blubell. A curadoria do Festival selecionou 15 produções que representam um panorama do videoclipe feito no país nos anos de 2016 e 2017.

 

Foram levados em conta a qualidade técnica e a experimentação da linguagem audiovisual no desenvolvimento do produto final. Mergulhados no suporte digital, vemos narrativas construídas tendo como base a ficção ou o documentário. Podemos ver os dois gêneros em trabalhos que denunciam os impactos do maior desastre ambiental da história do país.

 

As produções “Forte” e “Sweet River” usam como pano de fundo a vida das pessoas que sofrem com a avalanche de rejeitos de minério de ferro saída da Barragem de Fundão, em Mariana (MG). A lama avançou pelo Rio Doce até chegar à praia de Regência, devastando a mata ciliar e toda a vida aquática por onde passou, além de interromper o fornecimento de água de cidades inteiras.

 

Os closes e supercloses focados nos movimentos do corpo humano marcam a estrutura de “Entre” e “Liberdade x Segurança”, dois sensíveis trabalhos que empoderam a mulher, seja pela quebra de padrões ou pelo ato de ultrapassar portas que estão escancaradas à nossa frente.

 

As cores vibrantes têm seu lugar nos videoclipes, inclusive, em animações 2D ocupando ambientes urbanos sob o som do funk, vide “Território do Bem”, enquanto o P&B traz a crueza da construção visual necessária para desvendarmos a alma da mulher personificada por Joana Bentes.

 

Quadro a quadro, a animação “Fonte de Tristeza” nos faz viajar no ritmo regionalista de Cliver Honorato. É verdade! Estamos mergulhados em um gênero audiovisual plural.

 

A mensagem das letras das músicas é potencializada e ganha novos significados por meio das imagens em movimento. A voz das ruas está presente na mostra. As tecnologias acessíveis tornou possível que artistas das periferias passassem a produzir vídeos com o mesmo ritmo dos samplers do rap e com a competência das grandes produções nacionais.

 

Judeu Marcum, diretor de “X-Barras”, é autodidata e um dos mais produtivos do Estado do Espírito Santo. A trilha sonora do vídeo é do rapper MC Adikto, que tem passagem registrada na 15º edição do festival, em 2008, com o clipe “Discípulo Sem Cerimônia”, dirigido por Bento Abreu.

 

O paradigma do widescreem é quebrado em “Gamera”. De forma consciente, a diretora catarinense Gabriela Bieleski captura imagens de um celular em pé, e demostra saber o que está fazendo ao finalizar o vídeo. A mobilidade dos players e as redes sociais mudaram a nossa forma de consumir e fazer audiovisual. O videoclipe está na ponta deste fenômeno.

 

O vídeo mais popular do YouTube é do gênero. “See You Again”, no mês de julho deste ano, ultrapassou a marca de 2.895 bilhões de views, desbancando a marca anterior de “Gangnam Style”, que, pela primeira vez, ultrapassou a capacidade do contador do site ao alcançar 2.894 bilhões de visualizações. Dos 30 vídeos mais vistos na plataforma, apenas dois não são clipes.

 

Até a popularização da banda larga, o videoclipe tinha como principal canal a MTV. No entanto, essa forma de potencializar a divulgação da música, começou a ser usado constantemente pelos The Beatles nos anos 1960. A banda não podia se apresentar ao vivo nos vários programas de televisão. Então encaminhavam vídeos cujos integrantes cantavam as suas canções. A partir de uma necessidade, o gênero foi ganhando espaço e, ao longo dos anos, uma estética própria.

 

Desde as vanguardas dos anos 20 do século passado, cineastas articulam a imagem ao som para criar uma narrativa livre do cânone do teatro e da literatura. As obras-primas “O Homem com a Câmera” e “Berlim: Sinfonia da Metrópole” se encaixam na multiplicidade visual do videoclipe atual – narrativa não-linear, montagem fragmentada e acelerada, com planos curtos e misturados.

 

 

24º FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA
De 11 a 16 de setembro
Teatro Carlos Gomes
Entrada gratuita

1ª MOSTRA NACIONAL DE VIDEOCLIPES
11 de setembro, a partir das 16h

 

A PRAGA (3’, SP), de Naio Rezende. Videoclipe oficial da música “A Praga”, de autoria do grupo Haikaiss.

 

ADIKTO – X BARRAS (4’, ES), de Judeu Marcum. O clipe narra um fato que aconteceu com o artista Andre Adikto e sua escolha sobre a situação acontecida.

 

DEVANEIO (3’, ES), de Alexander Buck. Videoclipe da música “Devaneio”, faixa 7 do disco Estranho Sutil (2015), de André Prando. Uma produção Finordia. Abra a mente e deixe o fantasma viver.

 

ENTRE (4’, ES), de Tati W Franklin e Suellen Vasconcelos. Videoclipe da música “Entre”, de Joana Bentes.

 

FONTE DA TRISTEZA (4’, MG), de Samira Daher. A história de uma mulher abandonada por seu grande amor. Inspirada na cantiga popular brasileira “Fonte do Tororó”.

 

GAMERA (2’, SC), de Gabriela Bieleski. Garota em Marte é uma rapper de Santa Catarina que navega os oceanos de suas incertezas com uma poética única e cheia de referências.

KAMIKAZE (3’, BA), de Luan Ragedo. Uma história verídica de uma menina que tinha Diabetes, adorava comer doces e por isso se recusou a fazer o tratamento devido, foi ficando cega e quando decidiu tratar-se ja era tarde demais, por isso optou por continuar aproveitando dos prazeres em vida para ter uma morte tranquila.

LEVADO (3’, SP), de Manoela Cezar. Clipe para a banda Raça, de São Paulo.

 

LIBERDADE X SEGURANÇA (4’, SP), de Blubell, Laís Aranha e Gabriela Jovine. O videoclipe da música “Liberdade X Segurança”, do álbum “Confissões de Camarim”, da cantora e compositora Blubell, parte de um convite à mulheres cuja liberdade inspira a artista. Cada qual com sua diversidade e universo particular empresta ao vídeo a sua desconstrução de forma pessoal e sem ensaios. O filme, produzido de forma colaborativa com as suas personagens, tem equipe composta 100% por mulheres que desempenharam todas as funções desde a elétrica até a montagem e finalização.

O MAL (2’, PR), de Carlon Hardt. Videoclipe de “O Mal”, música de Dante Ozetti e Arrigo Barnabé, interpretada por Juliana Cortes. “Assim quem jamais pensou no mal / Se viu em natureza criminal” – o filme retrata, através de stopmotion realizado com recortes e colagens, o surreal na perda da inocência e na sedução pelo proibido.

RASTACLONE – FORTE (4’, ES), de Danilo Laslo. Após a tragédia de Mariana, um garoto tenta seguir em frente em meio à lama e destruição. Ao ver todo seu vilarejo destruído ele consegue encontrar esperança quando descobre que a música pode preencher o vazio que falta em seu peito.

 

REDEMOINHO DE MARÇO II (4’, SP), de André Lucio. Redemoinho de Março é uma referência à música “Águas de Março”, de Elis Regina e Tom Jobim. Se eles viviam as águas de março, nós vivemos os redemoinhos. A música tem um caráter místico no que diz respeito aos signos, pois fala justamente dos piscianos e arianos, signos do mês de março. Em contrapartida, retrata a espiritualidade negra, a negligência do Estado com a periferia, a corrupção e a violência, tudo isso tendo em sua poética as águas e o fogo.

SOUL DA VILA (4’, ES), de Júnior Silva. Soul da Vila foi composta por Rafael Cyclop (letra) em parceria com Júnior Silva (música), e se apresenta como uma crônica sobre a cidade de Vila Velha, na região metropolitana do Espírito Santo. A contundência e poesia do texto mostra alguém que, por ter nascido na cidade e sempre morado nela, nutre respeito e admiração por suas belezas e lança um olhar crítico sobre suas mazelas.

SWEET RIVER (4’, ES), de Manfredo. Sweet River antes de ser apenas um videoclipe de música, surge como um manifesto em forma de lamento artístico, explorando as belas e tristes imagens captadas por uma expedição feita pela ong. “Últimos Refúgios (ES)”, dias após o rompimento da barragem de rejeitos em Mariana (MG) em 2015. E propõe a reflexão sobre os impactos nocivos do nosso consumo no meio ambiente. Vidas perdidas, ecossistemas inteiros eliminados… A ironia de um Rio Doce amargando o fim de maneira tão trágica e violenta.

 

TERRITÓRIO DO BEM (2’, ES), de Tati Rabelo e Rodrigo Linhales. Videoclipe realizado de forma colaborativa por artistas das 8 comunidades que se unem para formar o Território do Bem. Uma atitude de positividade e superação numa região estigmatizada pela violência, situada no coração da Ilha de Vitória, capital do Espírito Santo. Esta obra é uma ramificação do Documentário Território do Bem.