Sessões que integram o 24º Festival de Cinema de Vitória acontecem
nos dias 14 e 16 de setembro, no Teatro Carlos Gomes
Em sua quarta edição, a Mostra Outros Olhares chega renovada ao 24º Festival de Cinema de Vitória, com um dia a mais de exibição. Neste ano, o público poderá conferir uma seleção de 12 filmes, de cineastas novatos e veteranos, que apresentam um panorama da produção brasileira recente. As sessões acontecem nos dias 14 e 16 de setembro, às 16h, no Teatro Carlos Gomes. A entrada é franca.
As obras estão divididas em dois programas especiais: o primeiro, Panoramas, com sete filmes, traz algumas das mais representativas tendências do curta nacional, mesclando ficção, animação e documentário, com toda sua riqueza narrativa e temática. O segundo, de nome Genderfluid, trata de questões envolvendo diversidade de gênero e cidadania, buscando atingir plateias mais amplas, ao retratar aspectos afirmativos das vivências LGBT, a partir de novas possibilidades de diálogo e inserção nos diversos segmentos de nossa sociedade.
Filmes de cinco Estados (Espírito Santo, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná) e do Distrito Federal integram mostra. A curadoria ficou a cargo do professor universitário e pesquisador Erly Vieira Jr., com cocuradoria de Gustavo Guilherme, Luana Cabral e Waldir Segundo, integrantes do projeto de extensão “Baile” (Ufes).
Uma realização da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA), o 24º Festival de Cinema de Vitória acontecerá entre os dias 11 e 16 de setembro e conta com o patrocínio do Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura, e da Petrobras, com o apoio institucional da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo, da Cesan, da Secretaria de Cultura da Universidade Federal do Espírito Santo, do Banestes e do Canal Brasil, e com o apoio da Rede Gazeta, da Prefeitura de Vitória, ArcelorMittal, da Academia Internacional de Cinema, da CiaRio, da Mistika e da Link Digital.
Dos presentes possíveis a um futuro reimaginado
(Texto dos curadores Erly Vieira Jr e Luana Cabral)
De tempos em tempos, ao cinema é atribuída a complexa missão de refletir os fenômenos de seu tempo, o estado de mundo no qual ele mesmo se situa e do qual, em maior ou menor grau, ele retira a matéria-prima da qual se constitui. No caso do cinema brasileiro, especificamente, uma forte tradição política e os fantasmas glauberianos que ainda rondam a produção e o imaginário contemporâneos são alguns dos principais e mais diretos atores participantes nesse ato de interpelação da linguagem cinematográfica e de suas pretensões.
Nesse sentido, o conjunto de filmes que compõem o primeiro programa da mostra Outros Olhares representa parte significativa daquilo que de mais interessante vem sendo produzido no Brasil em termos de curta-metragem: desde os documentários, como Lambari, até ficções, como Deusa e o surpreendente Pássaros na Boca, passando pelo experimento híbrido que culmina no dispositivo de Deus e pelo gênero de animação, muito bem representado por Tango, pelos possíveis das infâncias desenhadas no quadro em Pequenos Animais sem Dono e pelo fôlego experimental das juventudes impossíveis de Fantasma Cidade Fantasma, esses filmes, para além de serem frutos recentes do cinema brasileiro, são também exercícios de imaginação e formulação do agora, que mais do que representarem determinada conjuntura ou uma específica visão de Brasil, inscrevem modos de vida distintos dentro de um regime de imagens e sons em movimento.
O que pode, pois, o cinema em tempos de crise? Os filmes apresentados neste programa dão a ver, dessa maneira, a miríade de caminhos disponíveis ao cinema – desde que ele se encontre com uma força de coragem para lançar-se ao mundo e desprender-se de si próprio. Sobretudo, nos mostram que os processos de transformação social se dão também em níveis subjetivos e afetivos, e que há muito mais possibilidades para a linguagem cinematográfica do que a mera tradução em planos da melancolia de nossos dias.
Já o segundo programa da mostra aprofunda-se numa questão crucial de nosso tempo: o debate sobre diversidade de gênero, vida cotidiana e cidadania. Se a Mostra Quatro Estações anualmente se concentra num recorte voltado para o queer como experiência (re)fundadora das subjetividades LGBT, cabe a este programa especial expandir esse debate para a esfera pública, apresentando como esses novos modos de existir estão inseridos nos diversos segmentos de nossa sociedade. E também compreender que novos saberes se constroem a partir do contato com outras masculinidades e feminilidades.
Afinal, o cinema sempre teve suas próprias pedagogias, fazendo-nos aprender a partir das imagens e das experiências que generosamente compartilha conosco. E este conjunto de filmes faz uso, simultaneamente, de duas das possibilidades que, segundo Mariana Baltar, marcam o cinema LGBT: de um lado, uma “pedagogia sociocultural”, que nos apresentaria o impacto social da diferença dentro da abordagem temática de cada filme; do outro, uma “pedagogia das sensações”, que fala diretamente à nossa pele, a partir dos afetos, sentimentos e sensações que cada situação mostrada nas telas nos provoca. Um aprendizado ao mesmo tempo para a mente e para o corpo, através do que transborda das telas, tanto em termos de imaginário quanto de ações concretas.
Como recusar a alegria contagiante dos clãs de gays de periferia, que organizam suas partidas de “gaymada” em praça pública, em Sem o pai, só a mãe? Ou a ternura e empatia que envolve o pai de uma criança queer, em Xavier? Ou ainda a fé inabalável de Mel, mulher trans que todo dia retorna em protesto à porta da igreja que não a acolheu, indagando sobre o amor e fraternidade tão propagados na Bíblia, em Toda noite estarei lá? Se Feminino parte da cultura drag e da performance para investigar outras construções da feminilidade, cabe a Transvivo acompanhar os processos de transição de dois jovens homens trans – numa partilha assumida de seus cotidianos, amigos, famílias e expectativas para o futuro, já que as câmeras são colocadas nas mãos dos protagonistas para que registrem, com a força de suas subjetividades, suas experiências de masculinidade.
É através dessas imagens afirmativas que o cinema busca nos ensinar, e muito, a viver junto, e a compreender a diferença a partir da potência e alegria desses corpos livres, para além das trevas que envolvem quaisquer discursos de ódio.
24º FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA
De 11 a 16 de setembro
Teatro Carlos Gomes
Entrada gratuita
4ª MOSTRA OUTROS OLHARES
Dias 14 e 16 de setembro, a partir das 16h
DEUS (OUT, 25’, SP), de Vinícius Silva. Acompanhando a rotina de Roseli, o filme visa expor adversidades impregnadas no dia a dia de mulheres negras da periferia da cidade de São Paulo que batalham para garantir seu sustento e, especialmente o de seus filhos.
DEUSA (FIC, 18’, SP), de Bruna Callegari. Deusa trabalha como arrecadadora no pedágio da ilha em que vive. Acostumada a ver o deslocamento dos viajantes, nunca havia pensado no próprio destino. Quando uma baleia encalha na praia, Deusa se sente diferente.
FANTASMA CIDADE FANTASMA (FIC, 13’, DF), de Amanda Devulsky e Pedro B. O barulho do estacionamento 11 ecoa pelo parque no centro da cidade. É bom poder contar com você.
FEMININO (DOC, 26’, MG), de Carolina Queiroz. Como a performatividade de uma drag queen é capaz de nos mostrar que, no fundo, não existe a natureza do feminino além dos atos, gestos e signos?
LAMBARI (DOC, 15’, MG), de Rodrigo Freitas. Lambari é um documentário de imersão sobre os impactos afetivos provocados pela lama da Samarco Mineradora S/A, controlada pela Vale S.A e BH Billiton, em moradores de Barra Longa, um dos municípios mineiros mais afetados pelo rompimento da barragem em Bento Rodrigues. Por quatro dias, a equipe documentou o cotidiano de moradores do maior desastre ambiental do gênero da história mundial dos últimos 100 anos, tendo como dispositivo a morada e intimidade do pescador João de Freitas.
PÁSSAROS NA BOCA (FIC, 15’, SP), de Gustavo Ribeiro. Martin é divorciado e há tempos não mora com a filha. Quando Sara é deixada aos cuidados do pai, ele começa a desconfiar que a menina está longe de ser uma adolescente comum. Baseado no conto da escritora argentina Samanta Schweblin.
PEQUENOS ANIMAIS SEM DONO (FIC, 13’, RJ), de Maju de Paiva. Olivia e Arthur têm dez anos e passam seus dias fora de casa. Vagam pelo condomínio, ouvem música e sonham com algum lugar longe dali. O dia em que Olivia descobre um gato sem dono no mato é o primeiro passo de uma jornada de perda da inocência.
SEM O PAI, SÓ A MÃE (DOC, 13’, MG), de Ian Dias. A modalidade esportiva ganhou outra dimensão. Gaymada não é só um jogo, é um encontro.
TANGO (ANI, 12’, PR), de Francisco Gusso e Pedro Giongo. Após anos de seca, uma batata mística brota nas distantes nascentes do Rio Aiatak. Em breve, tudo estará preparado para o grande ritual de Tango. Para o povo, este é o início de uma nova era.
TODA NOITE, ESTAREI LÁ (DOC, 11’, ES), de Thiago Moulin. Toda noite, Mel Rosário cumpre sua luta contra a intolerância.
TRANSVIVO (DOC, 30’, ES), de Tati W Franklin. Transvivo é um documentário que acompanha as vivências de Izah e Murilo enquanto passam pelo processo de transição de gênero.
XAVIER (FIC, 13’, SP), de Ricky Mastro. Nicolas começa a perceber que a atenção de seu filho Xavier, de 11 anos, não está mais só nas baquetas de sua bateria, mas se volta também para outros meninos.