Sessão que integra o 24º Festival de Cinema de Vitória acontece
no dia 14 de setembro, às 14h, no Teatro Carlos Gomes
A Mostra Mulheres no Cinema se consolida na programação oficial do Festival de Cinema de Vitória. Novidade na edição do ano passado, esse espaço volta a dar ênfase à atuação feminina por trás das câmeras e também nas telas, com a exibição de filmes que discutem temáticas caras ao gênero. A sessão acontece no dia 14 de setembro, às 14h, no Teatro Carlos Gomes, com entrada gratuita.
Neste ano, cinco filmes de quatro Estados – Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia – compõem a mostra. Embora estejam circunscritas no grande guarda-chuva da emancipação feminina, as obras selecionadas constroem um panorama de contextos específicos vivenciados pelas mulheres. Após a sessão, a mostra é ainda complementada por um debate, com participação da curadoria.
Segundo a curadora da mostra, a cineasta, professora universitária e cine-educadora Sáskia Sá, a seleção deste ano debate principalmente a questão do corpo: “idealizado, sexualizado, abusado, um corpo resistência que se move e ocupa seus espaços nas cidades e telas audiovisuais.”
“Nós, mulheres, somos plurais, diversas. Não existe em nós uma forma única de nos relacionarmos com o corpo, com nós mesmas, com o outro. Temos cores, texturas, vivências que nos diferenciam umas das outras. E nossas particularidades pautam o nosso olhar, o nosso resistir, a nossa forma de contar histórias”, comenta.
Sáskia é responsável pela seleção ao lado das cocuradoras Hegli Lotério, realizadora que desenvolve pesquisa sobre a representação da mulher negra no audiovisual, e Bárbara Ribeiro Silva, documentarista, ativista e bacharel em Cinema e Audiovisual.
Os cinco filmes que participam da mostra concorrem ao Troféu Vitória (Júri Popular). O anúncio das produções premiadas será feito no dia 16 de setembro, a partir das 21h, durante a Cerimônia de Encerramento do 24º Festival de Cinema de Vitória.
A Mostra Mulheres no Cinema estreou no ano passado com a exibição de nove curtas-metragens dirigidos exclusivamente por mulheres. As obras trataram do papel social da mulher no mundo contemporâneo, buscando desconstruir estereótipos e retirar das mulheres a função de objeto estético, atribuída a elas ao longo dos anos pelo cinema, especialmente o hollywoodiano.
Uma realização da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA), o 24º Festival de Cinema de Vitória acontecerá entre os dias 11 e 16 de setembro e conta com o patrocínio do Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura, e da Petrobras, com o apoio institucional da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo, da Cesan, da Secretaria de Cultura da Universidade Federal do Espírito Santo, do Banestes e do Canal Brasil, e com o apoio da Rede Gazeta, da Prefeitura de Vitória, ArcelorMittal, da Academia Internacional de Cinema, da CiaRio, da Mistika e da Link Digital.
O corpo da mulher no centro do debate
(Texto da curadora Sáskia Sá)
A segunda edição da Mostra Mulheres no Cinema consolida mais este espaço para o cinema realizado por mulheres dentro da programação do Festival de Cinema de Vitória. As inscrições de mulheres realizadoras tiveram um aumento de 75% neste ano, e a curadoria da mostra gostaria de agradecer a cada realizadora por colaborar com a construção da diversidade no audiovisual brasileiro.
Foram mais de 200 filmes recebidos sobre as mais variadas discussões e abordagens, porém alguns temas foram mais recorrentes nas realizações e nosso olhar acabou se direcionando para eles, por sentirmos que são as questões que traduzem uma tendência de discussão para esta edição da mostra. Assim, neste ano, a Mostra Mulheres no Cinema vem debater principalmente a questão do corpo: idealizado, sexualizado, abusado, um corpo resistência que se move e ocupa seus espaços nas cidades e telas audiovisuais.
Nós mulheres somos plurais, diversas. Não existe em nós uma forma única de nos relacionarmos com o corpo, com nós mesmas, com o outro. Temos cores, texturas, vivências que nos diferenciam umas das outras. E nossas particularidades pautam o nosso olhar, o nosso resistir, a nossa forma de contar histórias.
Porém, entre tantos filmes de tantas mulheres incríveis, tínhamos o limitador do tempo, este é o drama da curadoria, escolher os filmes que possam traduzir olhares sobre universos complexos e multidimensionais. Não é fácil! Sendo assim, a curadoria visou selecionar os filmes que mais se encaixaram na proposta que a mostra vem trazer – filmes de mulheres sobre mulheres e, principalmente, que trouxesse um discurso feminista múltiplo e potente.
Além de ter o foco de seleção no cinema feminista, há também a necessidade de desconstruirmos os padrões que nos cercam e se impõem sobre nossas vidas.
A cada ano os filmes nos mostram questões importantes para as mulheres que tem sido historicamente invisibilizadas, questões que, infelizmente, continuam as mesmas. É nesse sentido que os filmes selecionados trazem uma diversidade de temas, mesmo centrando-se na questão do corpo da mulher, questão central da mostra deste ano – o abuso sexual feminino, a necessidade de aceitação de seus próprios corpos e cores, e principalmente a necessidade da luta contra o machismo que muitas vezes se cola aos nossos corpos e bocas. Esses assuntos ainda são de extrema importância para a discussão feminista, e é por isso que a cada ano as produções cinematográficas femininas vêm nos mostrando diferentes lados dessas mesmas situações como nos filmes da mostra deste ano.
Entre as selecionadas para representar essa diversidade estão as diretoras Laís Perini, Laysa Elias e Letícia Bina. O curta “Enquanto Calam-se os Agudos” (2017), torna-se mais interessante por seu movimento de distanciamento e aproximação, sobrepondo camadas ao filme, que revelam aos poucos seu verdadeiro cerne. Uma peça que nos traz a diversidade de mulheres que ocupam o espaço urbano com suas potências narrativas. Já Marina Martins traz a pertinente discussão a respeito da relação das mulheres com seu corpo. O baiano “Fervendo” (2016) apresenta a questão sempre urgente do aborto em uma ficção de Camila Gregório. O filme “Revejo”, de Láisa Freitas, único capixaba da seleção, traz o desafio que é se tornar uma mulher negra, a construção com sensibilidade dessa identidade pela diretora e outras mulheres. O filme “Eu Não Quero ter Filhos”, um documentário em primeira pessoa, fala sobre as escolhas que incidem sobre nossos corpos em um questionamento sobre a maternidade compulsória. E por fim, o filme “O Mais Barulhento Silêncio”, também um documentário, fecha a curadoria com uma visão performática sobre o estupro.
Todas estas questões que permeiam e atravessam a questão maior do corpo da mulher estão presentes nestes cinco filmes. São filmes que trazem ainda um recorte curatorial de mulheres que também buscam as perguntas que precisam ser refletidas e debatidas nos tempos pelos quais nos movemos e onde buscamos potencializar nossas falas, nossos olhares e os temas, que precisam ser discutidos sob a nossa perspectiva de mulheres, realizadoras, curadoras, enfim, nós mulheres enquanto público, porque queremos ver estas questões nas telas e queremos ver sob o nosso olhar.
24º FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA
De 11 a 16 de setembro
Teatro Carlos Gomes
Entrada gratuita
2ª MOSTRA MULHERES NO CINEMA
14 de setembro, a partir das 14h
ENQUANTO CALAM-ME OS AGUDOS (DOC, 18’, SP), de Laís Perini, Laysa Elias e Letícia Bina. Por meio da colagem de imagens captadas na cidade de São Paulo, junto à relatos de mulheres contemporâneas e de outrora sobre como é habitar e resistir no meio urbano, Enquanto Calam-me os Agudos apresenta uma constelação de vozes que ecoam o espírito de luta da mulher que perfura o tempo.
EU NÃO QUERO TER FILHOS (DOC, 9’, SP), de Nathália Gardin. Um ensaio sobre a maternidade e outras questões pertinentes à condição da mulher na sociedade atual, através de memórias e pensamentos.
FERVENDO (FIC, 16’, BA), de Camila Gregório. Ticiane procura por momentos descontraídos enquanto tudo está fervendo.
O MAIS BARULHENTO SILÊNCIO (DOC, 15’, RJ), Marccela Moreno. Uma em cada quatro mulheres é estuprada ao longo de sua vida. A maioria, por um homem próximo. A repressão e naturalização da violência nos silenciam e nos cegam. Neste filme-ensaio, acompanhamos o processo de descoberta de quatro mulheres enquanto vítimas de estupros por seus parceiros íntimos. Em um cenário alegórico, elas compartilham suas memórias dolorosas e refletem sobre o que é ser mulher nesse mundo. Este mundo é feito para nós?