Longa-metragem de Luiz Carlos Lacerda, que será exibido no dia 16 de setembro, leva para as telas
texto inacabado do escritor mineiro Lucio Cardoso

 

É no embate entre o arcaico e contemporâneo que o experiente cineasta Luiz Carlos Lacerda constrói a narrativa de seu mais recente longa, “Introdução à Música do Sangue”. A obra foi escolhida como Filme de Encerramento do 24º Festival de Cinema de Vitória, que promove uma maratona cinematográfica a partir do dia 11 setembro, no Teatro Carlos Gomes. A Sessão Especial chega à tela grande às 19h do dia 16 de setembro.

 

Diretor dos premiados “Leila Diniz” e “For All – O Trampolim da Vitória”, Luiz Carlos Lacerda transpõe para o cinema um texto inacabado do mineiro Lucio Cardoso, escritor que já havia sido adaptado pelo diretor em 1971. Como a obra que lhe deu origem, “Introdução à Música do Sangue” é denso e introspectivo, e sua lenta cadência encaixa-se perfeitamente à trama, que acompanha o cotidiano de um casal de terceira idade – interpretado pelos grandes Ney Latorraca e Bete Mendes -, que vive sem energia elétrica no interior de Minas Gerais.

 

O agricultor e a costureira representam os conflitos entre a modernidade e a tradição, uma vez que ele está decidido a não deixar que a eletricidade rompa a rotina pacata do lugar. A mulher, por outro lado, tenta convencer o marido a mudar de ideia, com a alegação de que poderia melhorar a renda da família. Nesse clima sereno é que “Introdução à Música do Sangue” impõe seu ritmo.

 

A atriz Bete Mendes é um dos destaques do filme, na pele de Ernestina | Foto: Divulgação

A monotonia, no entanto, logo é quebrada pela chegada de um jovem peão (Armando Babaioff) à fazenda, que desperta o interesse de Maria Isabel (Greta Antoine), menina de passado misterioso que mora com o casal. Esse acontecimento aparentemente banal é que infla a atmosfera de desejos e repressões desenvolvida pelo roteiro, assinado também por Lacerda.

 

“Meu filme é sobre o desejo e aonde a repressão do desejo é capaz de levar um ser humano. É um filme a favor da liberdade, da liberação dos desejos reprimidos. Foi totalmente realizado com luz natural e as noturnas com velas e lampiões,  uma homenagem ao cinema brasileiro em sua origem e essência. Como disse Nelson Pereira dos Santos, a fotografia contribui para a sua atmosfera poética”, comenta Luiz Carlos Lacerda, conhecido como Bigode.

 

De fato, os aspectos técnicos atuam todos em favor da história. A bela fotografia de Alisson Prodlik aproveita a luz natural da locação, na zona rural de Cataguases, reforçando a aura de austeridade e singeleza. Os longos takes passeiam pela casinha no meio do nada, amplificando o estado psicológico dor personagens, em consonância com a trilha sonora original, composta por David Tygel.

 

Lacerda recebeu com alegria o convite para exibir seu filme na Sessão Especial. “Frequento o Festival de Cinema de Vitória há muitos anos e testemunho a sua importante e resistente permanência no panorama cultural brasileiro. Participar com meu filme como convidado é uma honra”, afirma o cineasta. “Vitória é terra fértil onde vi crescer talentosos cineastas nesses últimos anos.”

 

Oficina

 

Além de exibir “Introdução à Música do Sangue” no 24º Festival de Cinema de Vitória, Luiz Carlos Lacerda também participa da programação no comando da Oficina de Realização em Cinema e Vídeo, um dos sucessos do evento. Com uma carga horária de 40 horas, o curso tem o objetivo de instrumentalizar os participantes, técnica e artisticamente, para a realização de um filme de ficção com até 15 minutos. Em aulas práticas e teóricas, os alunos vão vivenciar as diferentes funções desse processo, nos moldes de uma equipe profissional com polivalência de funções.

 

O cineasta iniciou carreira na década de 1960, como assistente de direção do mestre Nelson Pereira dos Santos (“Rio, 40 Graus”, “Tenda dos Milagres”) e estreou na direção com “Mãos Vazias” (1971), uma adaptação do romance homônimo de Lucio Cardoso, estrelado por Leila Diniz e Ana Maria Magalhães. Roteirizou e dirigiu cerca de 30 curtas-metragens e vídeos, todos sobre temas ou personalidades da cultura brasileira, como Cecília Meirelles e Barão de Itararé.

 

“O Princípio do Prazer”, “Viva Sapato”, “Casa 9”, “A Mulher de Longe” e “O Que Seria Deste Mundo Sem Paixão”, este inédito no circuito comercial, são outros longas dirigidos por Lacerda. Foi produtor executivo de cerca de 25 longas, auxiliando diretores Arnaldo Jabor, Gustavo Dahl, Cacá Diegues, Bruno Barreto, Fábio Barreto, Sérgio Resende e Hugo Carvana e também de novelas e minisséries da TV Globo. Lacerda também foi professor na Escola Internacional de Cinema de Cuba e da Universidade Estácio de Sá.

 

Uma realização da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA), o 24º Festival de Cinema de Vitória conta com o patrocínio do Ministério da Cultura, através da Lei de Incentivo à Cultura, e da Petrobras, com o apoio institucional da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo, da Cesan, da Secretaria de Cultura da Universidade Federal do Espírito Santo e do Canal Brasil, e com o apoio da Rede Gazeta, da Prefeitura de Vitória, da Academia Internacional de Cinema, da CiaRio, da Mistika e da Link Digital.

 

SERVIÇO:

24º Festival de Cinema de Vitória
De 11 a 16 de setembro
Teatro Carlos Gomes

 

Sessão Especial – Filme de Encerramento
“Introdução à Música do Sangue”, de Luiz Carlos Lacerda
Exibição: 16 de setembro, às 19h