“Eu não sabia que eu podia”, comentou a cineasta Laís Bodanzky, sobre escrever o roteiro de filme. Para ela, muitas realizadoras mulheres deixam de produzir por simplesmente não saber que podem. A temática feminista foi o foco do debate realizado com a cineasta na manhã desta terça-feira (12), no Hotel Senac Ilha do Boi, indo ao encontro do conteúdo do seu mais recente filme, “Como Nossos Pais”, exibido na primeira noite da 7ª Mostra Competitiva Nacional de Longas, na segunda-feira (11).

 

“A bela, recatada e do lar pode existir, mas não é preciso ser assim para ser mulher. Há uma fala de ‘Como Nossos Pais’ que eu gostaria de ter dito para a minha mãe, que é quando a Rosa diz ‘mãe, obrigada por ter me levado ao show da Rita Lee’. Minha mãe me levou num show da Rita Lee quando eu era criança, e eu vi aquela mulher que fazia várias coisas diferentes do arquétipo de princesa, mas não deixava de ser mulher por isso. Eu entendi que eu posso fazer outras coisas sem deixar de ser mulher”, contou Laís, no debate.

 

A cineasta também conversou com os participantes sobre seu processo de produção, os bastidores dos filmes e a dificuldade que as mulheres têm de ocupar postos de comando na área do cinema. “Sou a favor de cota. Se sempre tem que ser metade mulher, metade homem nas seleções, daqui a pouco isso fica natural”, explicou.

 

Para ela, o aumento da quantidade de mulheres nas funções de direção e roteiro de produções tende a inspirar outras mulheres a seguir esse caminho. A representatividade é importante para a cineasta, que também fez questão de elogiar durante o debate a produção de mulheres negras.

 

Roteiro

 

O roteiro de “Como Nossos Pais” é assinado por Laís e Luiz Bolognesi. Trata-se do primeiro texto dela com uma protagonista mulher desde o curta “Cartão Vermelho”, escrito há cerca de 20 anos. “Eu contava uma história de uma menina que queria jogar futebol e fazia isso de uma forma muito agressiva, porque era excluída. Na época, contei essa história porque achava interessante, sem nenhuma intenção política. Agora é diferente”, lembrou.

 

O debate ainda tocou na falta de visibilidade das mulheres em ambientes de trabalho. “Aquela coisa de estar numa reunião, a pessoa olhar pra todo mundo e não te ver porque você é mulher”, disse, sob acenos positivos das mulheres que participavam da conversa.

A programação de debates com realizadores segue pelos próximos dias. Na quarta-feira, quem bate um papo com os interessados é a assistente de direção do docudrama “Baronesa”. Na quinta-feira, é a vez de Paulo Betti e Rafael Romão, diretor e roteirista de “A Fera da Selva”, conversarem sobre o filme. Os bate-papos acontecem sempre às 9h30, no Hotel Senac Ilha do Boi.